quinta-feira, 28 de julho de 2011

Cores de um dia

Manhã: a porta aberta de par em par, num café da praça Velasquez, no Porto, deixava entrar um brisa necessária. As folhas a corrigir sob a mão protetora. Éramos quatro. Quatro professoras anónimas a corrigir provas anónimas. A uni-las, o trabalho partilhado e a consoladora amizade. Quem fez as provas tentou, com certeza, escrever o melhor que sabia. Quem as corrige lê com atenção o que está escrito para que a cotação seja justa. Professores e alunos procuram o consolo do reconhecimento do seu trabalho. Tão poucas vezes explicitado. Não será um erro?

Uma hora da tarde: quente, ensolarada e muito conversada travessia da praça Velasquez. A terra seca do chão pega-se à cor das sandálias que vão deixando pequeninas marcas.
Almoço ao ar livre. Perto de árvores e relva. Mesmo quente, a hora parecia mais fresca. Ou era da água fria que acompanhava o bacalhau à Brás - por acaso, servido pouco quente?

Principio da tarde: consultório médico. Ar condicionado. Forte. Quadros coloridos na parede. Alguns vindos de África. Corpos expostos à verdade do espaço e do tempo. Com roupas a realçar-lhes a pele e a cor. Uma escultura de pedra: um bebé nascendo do corpo da mãe. Fonte de vida.
Não se vêem, mas estão lá também os medos que advêm de consultas anuais. A vida expandida nas obras de arte apazigua a espera. Lá dentro, o médico comunica calma e amigavelmente. Como se fosse a primeira paciente do dia. Como se a última consulta tivesse sido ontem. Felizmente há pessoas-médicos assim.

Tarde: Sede. Muita sede. A água a cair no copo. Incolor e desejada. Ai que prazer ter sede e ter água para beber!

Fim da tarde: continuação da correção de provas. Tentarei olhar pela janela ao pôr do sol.

Noite: Se puder, antes da sua chegada, vou regar o jardim para que as cores do dia de amanhã sejam como as de hoje. Ou ainda mais nítidas, se for possível.

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