sábado, 8 de outubro de 2011

Diário de Mariana

8 de outubro

Querido diário,

Ontem, vi uma prof chorar. Anda sempre carregadinha com computador, pasta, etc…. Só a ouvi dizer no bar a uma colega: não sinto forças para trabalhar assim.

Eu estava com a Bea e até lhe dei sinal com o cotovelo.

Antes da aula, pusemo-nos, então, a recordar as vezes que já tínhamos visto profs chorar. A primeira vez foi numa aula do oitavo ano. Entrou uma empregada na sala com cara muito preocupada e disse baixinho: senhora professora, ligaram de sua casa. Querem falar com a senhora. É urgente. A prof saiu um bocadinho e depois chegou quase a chorar e disse-nos que um familiar muito próximo tinha falecido. Ficámos todos calados mas o Zé , tipo estúpido, disse uma piada e o rapaz que estava ao lado dele riu-se . Apeteceu-me bater-lhe. A prof pegou na carteira e saiu a chorar. Até se esqueceu da pasta em cima da cadeira. A empregada que ficou connosco é que reparou.

Outra vez foi quando uma setora entrou na sala de aula e foi ter com uma aluna que tinha ficado sem mãe. Ela queria consolar a rapariga, mas via-se que as palavras não vinham. Só as lágrimas. Parecia sem jeito como aquela prof que, sem querer, deu um poema a ler no dia do pai e o pai da rapariga tinha abandonado a família há uma semana. Fogo, que pontaria.

Não é que eu seja cusca, mas uma vez, há muito tempo, soube que uma prof também chorou porque uns alunos escreveram que tinham saudades das mães.

Outra vez, ia a subir as escadas e vi uma prof com lágrimas nos olhos a falar com um aluno dela que estava sufocadinho por causa de se ter zangado com a namorada.

Noutro dia, uma prof numa aula de substituição começou a passar-se por causa de dois alunos que não largavam o telemóvel e faziam de conta que ela era uma palhaça. Eu bem reparei que ela estava quase a chorar embora quisesse disfarçar.

Antes de reparar nisto, achava que os profs não choram, mas afinal, também choram, embora – como diz a minha mãe – sejam “pessoas muito resistentes”. Se nunca chorassem, a gente até julgava que eram de gesso e não de carne e osso como somos todos nós.

Se eu fosse prof, também era capaz de chorar quando visse alguém chorar como já vi o Gi.

E não gosto nada de ouvir dizer que os homens não choram.

Mil sorrisos, querido diário.

Mariana

PS – Vou tentar lembrar-me de situações em que os profs se riram muito e nós também. Também acho isso altamente.

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