quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Sem Sucesso?


100 palavras

Fui bastantes vezes ao cinema no Centro Comercial Cidade do Porto. As salas eram pequenas, sossegadas e… sem pipocas. Eu gostava dos filmes que lá passavam. Agora está vazio. Fechou e não sei se para sempre.

Que prazer era ver bom cinema ao fim de tarde de domingo, depois de tomar um café. Já na sala, tirava um livro ou revista da carteira e lia um bocadinho antes de as luzes se apagarem para darem lugar ao doce e mágico escurinho do cinema.

Há tempos que não vou ao cinema. Sinto falta. E das salas tranquilas do Bom Sucesso.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Como hei-de exprimir esta dor?

Às vezes, acontecem estas coisas. Ou não?

Comigo, acho que já aconteceram. Por isso me diverti a escrever este texto, um dia, num ateliê de escrita em Serralves.

Saúde para todos!

- Senhor doutor, dói-me a cabeça. Ela vem assim que penso que me vai doer.

Aflige-me tanto que até me tira a vontade de comer.

Dá-me enjoos. Eu que procuro ter cabeça, quase a perco quando me dói assim,

São horríveis estas náuseas que me arrancam de mim.

Senhor doutor, arranje-me um medicamento para que eu fique melhor.

Ah, é verdade,

Esta dor faz-me perder o equilíbrio.

O que eu tenho é um verdadeiro martírio

Valha-me a Santíssima Trindade.

Sinto um martelar na cabeça do lado esquerdo

Que me parece sinistro.

Antes doesse a um qualquer ministro

Dê-me um remédio para isto me passar

Porque esta enxaqueca não me deixa trabalhar.

Eu sei que não sou nova, mas não sou tão velha assim,

Ajude-me, senhor doutor,

Tire esta dor de cima de mim.

Mas, por favor, não me mande fazer radiografias nem tacs.

Eu sei que o senhor não é curandeiro,

Mas diga-me só que isto vai passar.

Se me disser isso e eu vir que o senhor doutor está a ser verdadeiro

Basta a sua palavrinha para logo me curar.

domingo, 28 de agosto de 2011

Hoje

É fim de tarde de domingo. Da janela, vejo um pássaro sobre um arbusto. À minha frente, em cima da mesa, tenho mais um relatório concluído. Que alívio deitar agora papel para reciclar e a mesa ficar mais vazia. Interrogo-me quem vai ler tanto relatório. Como procuro ver o lado positivo das coisas, penso que estes documentos ajudam a arrumar o pensamento e a procurar fazer cada vez melhor. Nem que seja em final de carreira. É sempre tempo de.

Hoje o nome Irene foi, para mim, uma preocupação. E para milhares de portugueses que, como eu, têm dos mais queridos familiares a viver nas zonas atingidas. Parece que a fúria do furacão foi diminuindo, transformando-se em tempestade tropical. Por que será que põem sempre nome de mulher a estes fenómenos?

Há minutos, descobri o blog de Pedro Mexia - "A lei seca". Não sei como se pronuncia o "e", mas também não importa. Felizmente há blogs para a necessária comunicação do imediato. E assim o hoje permanece mais um bocadinho.

Uma flor na lapela

100 palavras


Quem o conheceu dificilmente o esquece. Era magro, elegante, de fato irrepreensível. Punha diariamente uma flor fresca na lapela. Quase sempre vermelha e volumosa.

Tinha apelido de ave e as pessoas pronunciavam-no carregando nos erres.

Eu era muito nova e aquele homem era um mistério. Quem lhe arranjaria as flores? Quem as colocaria de modo tão perfeito? Só que nesse tempo a poucas questões se dava resposta. Por essa altura, li, julgo que às escondidas, a Dama das Camélias de Alexandre Dumas e comecei a imaginá-lo personagem de um outro livro que também gostaria de ler.

sábado, 27 de agosto de 2011

O desenho (im)perfeito

Há tempos, um professor da UC pediu um texto a várias pessoas sobre recordações da escola. O que lhe enviei foi o que se segue.

Esta semana, uma amiga perguntou-me: então, quando é que falas de Mariana? Para já, posso dizer que ela acha que ainda é muito cedo para voltar à escola. Diz que não teve tempo para saborear o verão!!!


Nunca tive jeito para o desenho.

Um dia, a minha professora da 4ª classe mandou as alunas – nesse tempo, as raparigas estavam separadas dos rapazes – desenhar uma caravela. Estudávamos os Descobrimentos e haveria uma pequena exposição dos trabalhos produzidos pela turma.

Tal como todas as meninas, fiz o meu desenho. Ficou imperfeito. Dei-lhe os retoques que sabia e podia. Continuava autêntico mas longe da perfeição.

Chegou o dia da exposição – que foi feita pela professora sem a intervenção dos alunos. Na parede exterior da sala de aula, víamos as mais diversas embarcações. Procurei a minha, não a encontrava. Olhei melhor, continuava sem a descobrir. Foi então que saltou aos meus olhos uma bela caravela com o meu nome. A professora, sozinha, tinha-a aperfeiçoado tanto que eu quase não a reconhecia. O mesmo espanto vi no rosto de outras alunas.

Olhando aquelas embarcações tão perfeitas, passaram a navegar mais dúvidas nos olhos das meninas cujo desenho deixou de ser o seu.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Lobo do mar em terra

100 palavras


Todos os dias anda perto do mar: a varrer os passeios, a regar os jardins, na sua bicicleta, a passear rente à praia…

É um homem bonito, de barbas quase brancas, muitas vezes só, embora sorrindo e respondendo à saudação. Faz-me lembrar um velho lobo do mar, um pirata, um aventureiro dos mares que a terra impediu de prosseguir viagem. Daqueles que aparecem em quadros antigos com olhar sereno, sábio e um cachimbo bem seguro nos lábios finos.

Não sei se já conheceu outras terras, mas a terra sem ele ficaria mais distante do mar.