quarta-feira, 23 de maio de 2012

De tarde

Merse

Naquele «pic-nic» de burguesas,
Houve uma coisa simplesmente bela,
E que, sem ter história nem grandezas,
Em todo o caso dava uma aguarela.

Foi quando tu, descendo do burrico,

Foste colher, sem imposturas tolas,
A um granzoal azul de grão-de-bico
Um ramalhete rubro de papoulas.

Pouco depois, em cima duns penhascos,

Nós acampámos, inda o sol se via;
E houve talhadas de melão, damascos,
E pão de ló molhado em malvasia.

Mas, todo púrpuro, a sair da renda

Dos teus dois seios como duas rolas,
Era o supremo encanto da merenda
O ramalhete rubro das papoulas.


Cesário Verde 

Nota: 
Tantas sensações neste poema: visuais, olfativas, tácteis, gustativas...
Muitos poemas também contam histórias.
E mostram muitos dos sabores de coisas simples e belas.
Que dariam coloridas "aguarelas".
Os olhos de Cesário Verde, que viveu no século XIX, ainda guiam e as suas palavras continuam a pintar
Só os génios o conseguem.


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