segunda-feira, 16 de julho de 2012

Sozinha na sala

Ângelo de Sousa

A sala estava vazia. A porta, pesadíssima, fechou-se e eu sentei-me. Como coadjuvante, peguei na prova de exame, li os textos e comecei a responder às questões. Tal como os alunos do 12º ano que estavam nas diferentes salas da escola.
O texto principal era retirado do livro Memorial do Convento de José Saramago e, no excerto, lá estavam as relações entre homem e mulher, entre pais e filhos; os malefícios da guerra...

Outro texto abordava o "esvaziamento de palavras" como honra, fé, verdade, razão...
Até onde nos levará este vazio de tantos sentidos?

Na composição, os alunos tinham de apresentar uma reflexão sobre os papéis do homem e da mulher nos dias de hoje.
Imaginei que surgiriam bastantes banalidades, mas também argumentos e exemplos de quem está atento ao mundo e à importância de todos na construção da sociedade.

Pela janela, via as pessoas a entrarem no edifício escolar. Algumas delas a lecionar na escola. Nos seus ouvidos, ainda soaria o anúncio de que tinham de concorrer para outras escolas porque provavelmente não haveria vaga.

O aumento de alunos por turma iria reduzir o número de turmas e, por consequência, o número de horários.

Alguns professores falavam de um murro no estômago: depois de tanto tempo na escola, ter agora de sair? 

E vinham à memória atividades realizadas por muitos desses docentes, que pareciam de nada valer, no momento da fria contagem de alunos e professores para encaixarem no menor número de horários para, assim, reduzir custos.

E já tinha havido lágrimas, porque o concurso, a procura de vagas, o horário zero poderiam ser o prenúncio do fim precipitado de uma carreira.

E eu continuava sozinha na sala, agora já com o exame resolvido. Poderia ser necessária enquanto durasse a resolução da prova.

Uma amálgama de pensamentos, de sensações.
E, mais uma vez, pensei que, para além da maravilha que é aprender e ensinar, há muitos momentos em que cada pessoa se sente ou está sozinha na(s) sala(s).

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