domingo, 22 de julho de 2012

Uma nostalgia feliz


Van Gogh


à Dolores, que se atreveu à renda, mas não ao poema

Há uma rendinha branquinha
Que fica linda, catita
Na saia rosa de chita
Da minha boneca de trapos.

Foi feita pela minha avó,
Neste moinho velhinho,
Onde agora eu me divido
No passado feito pó.

Nestas manhãs de silêncio,
Curadas em maresia,
Recordo as tardes alegres,
Em que ela rendas fazia.

Não eram só bonecas e netas
Que se alindavam em lavor,
Mas todas as roupas domingueiras
Para as visitas ao Senhor!

Também as roupas de cama,
As peças especiais
Para aqueles dias únicos,
Marcados por rituais,
Tinham seu toque de fada.

E agora, que guardo na arca,
Encostada à velha mó,
A bela boneca de trapos,
Rendilho a azul no papel
A infância rendilhada
Pelas mãos da minha avó!

IA, Porto, 22 de julho 2012

Nota - Obrigada, Isaura. Continua a rendilhar as palavras.

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