terça-feira, 13 de novembro de 2012

Escrever ...em tempo de crise

Menez
Escreva, minha filha, escreva. Quando 
estiver entediada, nostálgica, desocupada,
neutra, escreva. Escreva mesmo 
bobagens, palavras soltas, experimente 
fazer versos, artigos, pensamentos soltos, 
descreva como exercício o degrau da 
escada de seu edifício (saiu em verso 
sem querer), escreva sempre, mesmo 
para não publicar e principalmente para 
não publicar. Não tenha a preocupação 
de fazer obras primas, que de há muito 
eu já perdi, se que algum dia a tive, mas só
e simplesmente escrever, se exprimir, 
desenvolver um movimento interior que 
se encontra em si próprio sua justificação. 
Isto é muito melhor do que traduzir 
Proust, distração que não distrai, porque
é chata como toda a tradução e acaba nos
desculpando muito fracamente perante 
nós mesmos de não havermos escrito por 
nossa conta e responsabilidade.

Carlos Drummond de Andrade

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