sábado, 24 de novembro de 2012

Retrato de mulher com ateliê de escrita ao fundo


Esta semana, vai iniciar-se, em Serralves, 
um novo curso/ateliê de escrita: 
 "Literatura e Música: um diálogo eterno".
                              
O dinamizador é o escritor Mário Cláudio.

Por acaso, encontrei este pequeno 
texto que escrevi num ateliê de escrita anterior.

Mulher que gosta do mar, que ouve e vê, no barulho das ondas, outros elementos da natureza, que se sobressalta com o equilíbrio azul das palavras límpidas de Sophia ou  com os versos ensolarados de Eugénio, poeta que também iluminou quadros de pintores como Júlio Resende. Mulher que sente a amorosa errância ardente de Florbela ao olhar as árvores solitárias e esquentadas do Alentejo.
Mulher que teme o frio e o vazio das grutas mas que delas se aproxima em busca de luz e de silêncio. Que gosta de passear mas que o faz muitas vezes olhando a janela, vendo as camélias a florir lá fora. De tão próximas, parecem abrir cá dentro.
Mulher que gosta de escutar e ler os textos de Mestres da Literatura, mas também de ouvir os dos colegas de ateliê que, em poucos minutos, escrevem uma história com todos os sentidos, fazendo emergir a pluralidade das vozes. De si próprios ou de seres com quem se cruzam.
Mulher que vai escolhendo e combinando palavras que apanha na beira dos caminhos que conhece, embora gostasse de as colher mais fundo.
Mulher que gosta de ouvir música que irrompe também da combinação de palavras e de sílabas. Que se deixa embalar com a música de Jacques Brel à qual gostaria de repetir: Ne me quitte pas.
Mulher que gosta de escrever pequenos textos e de os ler em voz alta. Tal como qualquer artesão que partilha as suas pequenas peças. Ou um adolescente que envia uma mensagem que o deixa insatisfeito mas mais tranquilo.
Mulher que, no ateliê, toma notas sobre Literatura e sobre o Mundo, sentindo este mais habitável e mais visível, graças a todos que o reescrevem.
Mulher que acha quase tão reais os Pescadores de Raul Brandão como os pescadores que vê junto ao Douro.
Mulher que gosta de escrever, pondo-se na pele de outrem, embora não possa fugir de si própria como permitia a genialidade de Fernando Pessoa.
Mulher que se confronta, como qualquer ser humano, com o seu destino, com o seu papel no mundo, que se interroga sobre as marcas que vamos deixando com o passar dos dias.
Mulher que vê o Atelier de Escrita como uma orquestra, onde cabem diferentes músicos, diferentes instrumentos, trabalhando todos sob a batuta de um Maestro que, para além de orientar o grupo, tem vasta obra produzida e vai ajudando a que cada um, à sua maneira, vá compondo novas peças.
Mulher que vai acrescentando novos elementos para ir compondo um possível retrato. Também com o Ateliê de Escrita ao Fundo.

4 comentários:

  1. É tão bom vir aqui e encontrar esta(s) mulher(es)! Todas elas pela mão de uma outra mulher - grande! - que és tu!

    Como eu gostaria de ir contigo ao Mário Cláudio (Complemento oblíquo, é claro!)e (re)descobrir, nessas mulheres, nessas vozes, nessas notas musicais que certas palavras são, a minha voz bem íntima! A canção que eu sou!

    Beijinho, Dolores, e bom domingo.
    IA (às vezes, prima Za)

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  2. Também é muito bom, Za, em domingo cinzento e de chuva (apesar de gostar de domingos assim!), abrir o computador e ler estes mimos. És muito generosa, amiga.

    Seria muito bom realmente participares também do Ateliê de Escrita. De certeza que o Mário Cláudio adoraria.

    Beijinho e bom domingo
    M.

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  3. Eu inscrevi-me :) mas soube hoje que se calhar não vai começar já nesta quarta, e talvez só em Janeiro, ainda não sei bem.
    um beijinho
    Gábi

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  4. Olá, Gábi
    Obrigada por me dizeres, porque ainda não sabia. Para mim, até seria melhor começar em janeiro.
    Seja em que mês for, a tua presença é obrigatória.
    Beijinho
    M.

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