sexta-feira, 22 de março de 2013

Catálogos


A última peça de teatro que vi foi "Os desastres do amor", a partir de textos de Marivaux, com encenação de Luís Miguel Cintra. A representação foi no Teatro Nacional de S. João, no Porto. Trouxe, como quase sempre, o catálogo que costuma ser distribuído gratuitamente.

Sendo o catálogo um trabalho aparentemente acessório, é muito importante para se compreender a peça, o autor e tudo o que está à volta do espetáculo.


No caso presente, Luís Miguel Cintra assina o texto "Este espetáculo". Na peça, o ator tem o papel de um grotesco "Dom Cupidom, um hóspede permanente que se crê Cupido; Redondinho, trabalhador do eventual do Fortuna Palace".


Para além de muitos assuntos que aborda nesse texto do catálogo, este grande homem do Teatro escreve:
"Preciso do teatro como do pão para a boca. Para pensar. E sobretudo estar com os outros. Um espaço pelo qual neste momento já é preciso lutar. É no teatro que tenho tentado aprender a viver e, com tanta peça de todas as épocas que estudei, tenho vivido em permanente estado de reflexão sobre os seres humanos e sobre a evolução das sociedades" (p. 5).

E muito mais se pode encontrar neste(s) texto(s) que ajuda(m) a compreender melhor as obras, os cenários, os figurinos, os desenhos de luz, a música, a interpretação...

O encenador e ator reitera, em cada palavra, o seu amor pelo Teatro e pela Vida, terminando o seu texto, dirigindo-se a Rita Blanco, Felícia: "Foi de amor que falámos, sim, Rita. Com a nossa arte, que nenhum money can buy".


Os textos explicativos ajudam a compreender uma imensidão de trabalhos realizados e que convergem numa peça de teatro. Só aparentemente são voláteis como parece ser qualquer catálogo.

Vou continuar a lê-los e a guardá-los na caixa habitual. A propósito, vou ver se arranjo um tempinho para arrumar essa caixa. Porei um separador com o título: "catálogos"; o subtítulo poderia ser: "Também obras de arte".



3 comentários:

  1. E que arte!
    Eu fiquei-me mais pela peça e pela música...
    http://carruagem23.blogspot.pt/2013/03/em-dia-de-poesia-fiquei-me-pelo-teatro.html
    Bom domingo.
    Beijo.

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  2. Estão a ver por que me fiquei pelo catálogo? É que com estes comentários, mais palavras para quê?
    Obrigada. Vocês são uns ótimos críticos de teatro (para não falar de cinema, de livros...)
    Continuemos porque a vida também é Teatro.

    Beijinhos
    M.

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  3. Anónimo deixou um novo comentário na sua mensagem "Catálogos":

    Com efeito, os catálogos cumprem essa sinuosa missão. Digo sinuosa, porque, se lidos antes de se assistir ao espetáculo, condicionam a leitura e a "entrega" de quem o quer apreciar. Por isso, eu deito uns olhinhos ao assunto e quando pressinto que aí vem interpretação, fecho catálogo.
    Leio só no fim e aí confronto o que pensei-senti, ou melhor, o que senti-pensei com o que me é oferecido no livrinho.

    Confesso que gostei muito destes desastres do amor ou deste palácio da fortuna, ou do palácio do amor perdido ou dos desastres da déspota fortuna, ou da impossibilidade da verdade e do amor que se torna fruto apetecido, porém, logo que colhido, nos lança numa terna mas tirana e cega prisão...

    A certa altura, perdi-me um pouco nas amálgamas em que todos estes conceitos-sentimentos se transformavam. Se, por um lado, cada personagem se assumia como um valor, princípio, sentimento bem definidos, porque distintos do outro(s), por outro, no diálogo-batalha que travavam com aqueles de quem se pretendiam distanciar para se afirmarem, (re)descobriam as suas limitações, as suas imensas fragilidades, a certeza de que sem os outros, a sua existência, a sua essência não fazia qualquer sentido!

    Por isso, quando é posta a hipótese de Dom Cupidom "acasalar" com o Amor para que, enfim um que é só vícios e o outro que só tem defeitos pudessem, como um ,se transformarem em Virtude, não pude deixar de sorrir e soltar inclusive um pequeno suspiro.
    Não é isso que todos desejamos, quando se trata do amor-paixão? Não é essa também uma das etapas na busca da Felicidade, do Sentido da Vida?
    Felícia faz esse percurso, mas, no momento da verdade, quando tem que decidir, divide-se entre o que sente e o que os outros (neste caso, ela fala das famílias) pensarão e como encararão essa união aparentemente tão despropositada - ele é apenas um jardineiro! (Jeitoso, diga-se em boa verdade! Lá estou eu, “flechada” por Dom Cupidom :-)). Pensa também nela que se verá “acorrentada” a um outro e, de novo, a dúvida: será possível conciliar em eterna união o amor e a verdade? Ela que não se quer afastar da virtude… Pobre Felícia!
    Pobres todos nós que temos tanto dela!

    Não trouxe catálogo, daí que não tenha confrontado o que senti-pensei com o que me era proposto. Fico-me pelo sabor jocoso da encenação que tanto me fez rir e pensar! E fico-me também pelo sabor amargo de que só ter estado lá uma vez não chegou! Haviamuito para ver e ouvir melhor!

    Beijinho e até ao próximo teatro!
    IA

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