quarta-feira, 8 de maio de 2013

Uma história (?) com um desenho dentro



Era uma vez uma menina que gostava de desenhar, de pintar, de observar a natureza, reparando nas diferentes cores que embrulham cada lugar, alegrando a memória à sua passagem.

Todas as semanas, reservava um bocadinho de tempo para desenhar e pintar com outras pessoas amigas que também gostavam de produzir pequenos objetos de arte. E era uma ou duas horas em que o tempo passava vivo e risonho.

O grupo sentava-se à volta de uma mesa, estendia os tubos da tinta, punha água num pequeno recipiente, deixava cair pequenas quantidades de tinta noutro (sempre recipientes reutilizados) e começava a dar cor a pequenas folhas de papel ou a carinhosas telas.

E pintava-se o céu, o rio, árvores, casas, flores… E as meninas, que já não eram nada meninas, sorriam como se fossem de facto meninas, ao verem as manchas que no papel se formavam.

No final, punham à janela a pintura produzida para que o sol a secasse e ajudasse a fixar as cores e as formas.

Às vezes, não eram pinturas que saíam das mãos das meninas (de vez em quando, havia também um menino, para além de estridentes meninos, esses na idade de serem meninos que gostavam muito de frequentar o mesmo ateliê de artes, antes da aula de educação visual).

Das mãos das meninas, sobretudo de uma das meninas também saíam, por exemplo,  pássaros de pasta de papel que, quando formados de muitos bocadinhos, eram pintados e só lhes faltava cantar e voar!

A professora, a nossa professora de artes, como alegremente lhe chamavam quando se encontravam, ia apoiando e fazendo também. E, por vezes, as meninas, que já não eram meninas, diziam: oh, não gosto do meu desenho, tem demasiada cor, não tem as formas que eu queria…

Então, a professora de artes, que se ria sempre quando era chamada assim, pegava no pincel e com toda a naturalidade, ajudava a criar as formas desejadas.

Um dia, uma das meninas fez um trabalho, enquanto as tintas iam abrindo diferentes caminhos.

Na semana seguinte, já com a tinta bem firme, a menina olhava o desenho e dizia sorrindo: olha, até ficou bonito. E uma outra menina acrescentou: Está lindo. A primeira menina disse então: ofereço-to, é teu.

E a menina, que era a menos menina do grupo, recebeu, contente,  o presente, olhou-o e pensou: vou escrever uma história a partir do desenho.

Quando há bocadinho abriu o computador para a escrever, com o desenho ao lado, apenas lhe vieram estas palavras. Não é uma história, nem por sombras, mas os momentos simples e bonitos não contam também bonitas histórias?

2 comentários:

  1. Um belo e delicioso texto!
    Pois só assim é que nos tornamos crianças de novo, meninas prontas a olhar as cores e a perpetuar em pequenas pinturas os ensaios que brotam da imaginação sempre fértil e pueril. E com a mão sempre firme da professora de artes ficamos orgulhosas e admiradas com os belos trabalhos que vamos produzindo.
    CS
    Pena que seja por tão pouco tempo... porque as meninas que já não são meninas têm outras tarefas para cumprir.

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  2. Também bonito é o teu comentário. Obrigada.

    Continuemos, então, a produzir (com) arte naquele bocadinho semanal!

    Beijinho
    M.

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