quarta-feira, 19 de março de 2014

Se as estrelas falassem…

Após uma sessão no Planetário,
desafiei os meus alunos do 10º ano a escreverem 
 um poema, uma história...  com o título
"Se as estrelas falassem".
Este foi um dos textos que li e gostei. 
E assim vão nascendo novas estrelas.


Van Gogh
Para mim, elas falam. Aqueles pontinhos brilhantes, reluzentes, que todas as noites nos visitam, que nunca nos abandonam na imensidão da noite têm, tal como nós, vida. Vejo-as como seres maravilhosos e amigos. Falam de uma forma especial que só elas entendem  e, como são tão pequeninas, não as conseguimos ouvir. Mas será que são todas iguais?
Há muito tempo, havia uma menina, Carolina. Todas as tardes, após o lanche e realizados os trabalhos da escola, saía de casa, ao final da tarde, dirigia-se ao campo, airoso e preenchido com camélias, que ficava em frente à sua casa, cor de palha, e esperava pelo cair da noite. Ela não perdia um dia para falar com a estrelinha, que sobressaía no luar da noite.
Ensinava-lhe o que aprendera na escola e esta, encantada com as maravilhas que Carolina lhe trazia todas as noites, ficava ali, encantada com cada palavra que a menina lhe dizia. Depois, chegava a hora da rapariguinha ir dormir e a reluzente estrelinha cantava uma canção para esta adormecer.
Certo dia, Carolina estava, como habitualmente, no campo à espera da sua amiguinha, mas ela não aparecia. Começou a ficar preocupada e, chegada a hora de se deitar, nada mais lhe restou do que ir para a cama. Nessa noite, não dormiu, pois faltava-lhe a canção que a sua companheira lhe costumava cantar, com aquela voz fina, mas delicada.
Acontecera que, devido à poluição que se fazia sentir naquela época, todas as estrelas do céu começaram a ficar doentes e, como tal, deixaram de aparecer. Agora o céu encontrava-se escuro e andar pelas ruas tornara-se assustador. Não demorou muito para que a frágil menina se apercebesse da situação e, como sabia que se isto continuasse, o mundo se ia tornar vazio, como a imensidão do espaço, decidiu colocar “mãos à obra”!
Na manhã seguinte, foi a primeira a acordar e, eufórica e incontrolável, foi falar com o pai. Era  alto, elegante e de olhos cor de mel. Contou-lhe o que se estava a passar e pediu-lhe para lhe explicar melhor a situação, visto que ela ainda era pequenina e não percebia tudo o que a senhora da televisão dizia. Após a conversa, saíram os dois apressadamente de casa, pois a hora da rapariguinha regressar à escola aproximava-se. Pelo caminho, magicou e encheu a sua cabeça com ideias que iria expor à sua turma para travar o que se estava a passar, pois se continuasse, ia pôr muitas vidas em risco e já sentia falta da sua estrelinha.
À entrada da escola, reparou nas crianças que andavam cabisbaixas, como se algo de terrível tivesse acontecido. Estariam elas a rebaixar-se por esta desgraça sem sequer lutarem contra ela? Iriam desistir assim tão facilmente? Carolina tinha agora trabalho a dobrar! Tinha de, urgentemente, alterar as mentalidades que a rodeavam!
Após ter entrado na sala de aula, discursou perante os colegas, dizendo:
“- Isto assim não pode continuar! Já não falo com a minha estrelinha há muito tempo! Tenho saudades dela, mas preciso da vossa ajuda para ela poder vir ter comigo novamente. Ela está doente. Preciso que me ajudem a acabar com a poluição que se faz sentir.”
“- Claro, Carolina. Sabes que podes contar connosco, estamos do teu lado!”.
Logo após ter ouvido estas palavras, uma alegria renasceu dentro dela. Apressou-se a ir buscar cartazes de diferentes cores, marcadores pretos e, com a ajuda das restantes crianças, não hesitou em pôr “mãos à obra”!
Os cartazes que prepararam tinham escritas pequenas mensagens que visavam a diminuição do lixo que vagueava pela atmosfera. Não demoraram a espalhar os mesmos pelas ruas da cidade e pelos cafés mais frequentados.
Com este simples gesto, as pessoas ficaram conscientes da situação e começaram a adotar medidas saudáveis para o ambiente. Este começou a ficar melhor e, em poucos dias, o céu começou a surgir, de novo, brilhante. Carolina correu para o local onde costumava encontrar-se com a sua companheira, mas ela não aparecia. Desanimada, decidiu voltar para casa. Levantou-se e, cabisbaixa, caminhava em direção ao seu lar, quando, de repente, ouviu uma vozinha que lhe disse:
“- Ias embora sem me contares o que aprendeste de novo na escola? Assim também não tens direito a uma canção para adormeceres!”
Carolina não acreditava! Soltou um sorriso e ficou ali, horas a fio, a conversar com a sua amiga. E, para não fugir à “praxe”, ao deitar-se, ouviu a mesma fina voz de sempre que a fez cair num sono profundo.

Daniela Figueiredo,  10.º ano

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