domingo, 20 de abril de 2014

Páscoa - Impossível não me lembrar



- da espera do Compasso em domingo de Páscoa
Com o soar pressentido da campainha que anunciava a chegada do grupo de homens que repetia a palavra Aleluia. E que todos repetiam também. A devoção rimava sobretudo com tradição.

- das flores no chão, junto da porta de entrada, para que a casa não fosse esquecida.
E eram goivos e páscoas e margaridas porque o tempo era de ressurreição também das flores. Depois ficava o cheiro pisado que o vento noturno secaria.

- da impaciência refilada dos rapazes que queriam sair porque tinham as namoradas à espera e a Visita Pascal demorava.
E ficavam, ficavam à porta e juntavam-se com os vizinhos que também esperavam à sua porta, falando todos uns com os outros porque era Páscoa e cumpria-se a tradição: receber o compasso em casa. Ou beijar a Cruz, como também se dizia.

- das crianças que corriam à volta do compasso e recebiam amêndoas.
Era o tempo em que as crianças brincavam na rua. E corriam o arco. E jogavam às caçadinhas. Ou ao pião. E chutavam uma bola de pano. E as meninas jogavam à patela. E fugiam com medo dos rapazes que se escondiam entre o milho e atiravam pedras para as assustar.

- das orações que o Padre repetia na sala melhor (com as cortinas e os tapetes lavados) com a família reunida em semi-círculo.
E se estava calor, o Padre e os outros homens transpiravam e davam os pés de Cristo a beijar na Cruz, e o afago passava pelo respirar quente de todas as bocas.

- do cheiro a assado no forno e das idas da mãe à cozinha para vigiar a assadeira para que nada se queimasse, enquanto o pai ia calculando o tempo que faltava para o compasso chegar.
E eram certas as casas onde o Compasso parava para almoçar. Quase sempre de grandes mesas e de fortes alegrias sacramentais.

- das melhores colchas à janela para receber Cristo ressuscitado.
Muitas de renda branca, outras de tecido adamascado, outras fininhas mas lavadas e alisadas para o efeito.

- das brincadeiras, dos sorrisos, dos medos, dos sonhos…
- do feliz esquecimento de que nada seria para sempre. E de que nem todos estariam presentes em futuros domingos de Páscoa.



9 comentários:

  1. Parabéns e obrigada pela partilha destas tuas lembranças, que, (com algumas cambiantes), ainda são comuns a muitos de nós! São elas que nos vão alimentando a alma e, os "esquecimentos de que nada será para sempre", também. Uma Santa Páscoa. Bjs. A.V.

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  2. Obrigada, amiga.

    Um feliz tempo de Páscoa também.

    Um beijinho
    M.

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  3. também me lembrei de ti. visita o meu blogue :http://carlaandlouise.blogspot.pt/
    beijinhos e bom início de semana !

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  4. Também me lembrei de ti, dá um salto ao meu blog
    http://carlaandlouise.blogspot.pt/
    beijinhos e bom início de semana.

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  5. Se a Mariana fosse um livro seria um livro que embala___em que o virar da página transmite a sensação de um afago humano. humano porque é real, contido, educado. humano porque sabe que pequenas coisas existem. no entanto deixa a dúvida no leitor____se um dia não vai explodir nas suas próprias mãos quando confiantes se deixam embalar.

    no meio da "postada" do meu blog era esta a desculpa para a visita. beijinhos

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  6. Ainda não fui lá. Estou aqui às voltas com as aulas de amanhã!

    Agora em tom de graça e de provocação: o meu blog faz sono? Eh eh eh!

    Um xi-coração
    M.

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  7. sono ! nada disso é relaxante ! beijinhos. gosto da música aí em cima !

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