quarta-feira, 9 de abril de 2014

Podia ser um diário


Ela pensou na doença do pai, problema que afeta muitos homens e ainda mais quando a idade é muita. E como a idade é muita, muitos amigos já partiram, as forças não são muitas e tudo parece ser pouco como o futuro. A não ser os desgostos, chatices e preocupações que se espessam, tornando-se muitos muitos.
Ela respirou fundo antes de entrar no quarto onde a irmã estava presa a uma cama. Presa, mas sem correntes, é claro. As correntes estavam no corpo doente que não obedecia a qualquer ordem ou vontade. Apenas aos gestos dos outros para o voltarem e dele cuidarem.
Ela reviu um conto sobre o Porto, depois de uma amiga ter sugerido cortes necessários e certeiros. E sentiu prazer nas sucessivas leituras. Com uma história simples, o tempo de escrita e leitura permitia que entrasse num domínio sereno de felizes afetos.
Ela recebeu um convite amigo para ir ao Teatro Nacional de S. João no Porto, onde se representa uma peça com base na obra de Fernando Pessoa. Disse que não, mas como gostava de dizer que sim, soou a talvez, mas será não, com certeza.
Ela pegou no livro O cozinheiro do rei D. João VI, de Hélio Loureiro, e que será abordado no Ateliê de Escrita e de Leitura, em Serralves, dinamizado pelo escritor Mário Cláudio, e pensou que, pelo menos, algumas páginas queria ler.
Ela chegou à reunião de direção de turma sem ter tido tempo para organizar todos os papéis. E repetiu-se, na presença dos interessados: é necessário, sim, mais estudo, mais atenção nas aulas, menos brincadeira, mais maturidade, mais consciência das exigências do Ensino Secundário…
E, no fim, todos desejaram bom descanso. Já nem todos dizem “Boa Páscoa”. Existem outras liberdades, felizmente. Todos esperam, porém, uma vida nova.


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