terça-feira, 10 de junho de 2014

Overdose



Admiro quem não tem televisão em casa. Há muito tempo, tendo um televisor avariado, pensei que era uma maneira de começar esse caminho, mas, pronto (prontos, como dizem muitos dos meus alunos e não só), lá o mandei reparar.
Ligo a televisão sobretudo à hora das refeições e quando não estou a fazer um trabalho que exija muita concentração. Mas, muitas vezes, desligo o som. Algumas vozes dos apresentadores ouvir-se-iam a léguas de distância, mesmo sem cabos. Os apelos repetidos: ligue já. Os 20.000 euros podem ser seus são irritantes e embrutecedores. O número de telefone aparece em evidência e constantemente no écran.. Imagino muitas pessoas idosas e sós a terem de suportar tais ruídos para que a solidão não se oiça tanto.
Embora me ligue sobretudo aos canais de notícias, sábado à noite deparei-me com a Júlia Pinheiro, no seu programa da SIC em horário nobre, a acenar, maliciosamente, com dinheiro a dois jovens que, em palco, eram convidados a irem tirando peças de roupa. Conforme os visados aceitavam, o dinheiro era colocado ao seu lado. Tudo no meio de muita gargalhada e gritaria. É caso para dizer: sra d. Júlia, quanto é que a sua conta bancária sobe para a senhora descer tão baixo?
Um outro dia, já depois do jantar, vi que quase todos os canais generalistas portugueses estavam a dar futebol, sobretudo as lesões de Ronaldo, se Ronaldo treina, se Ronaldo fica no ginásio, se Ronaldo está em campo com os outros jogadores, se Ronaldo treina sozinho…
Claro que o Mundial de Futebol interessa a muita gente, mas a muitas criaturas como eu, que gosta de futebol q.b., sabendo que há outras coisas na vida, impõem overdoses de mais do mesmo.
Claro que as toma quem quer! E o que vale é que se pode fazer zapping, porque já não estamos nos velhos tempos de O programa segue dentro de momentos. E há livros. E há internet. E há filmes. E há música. E há o silêncio.
Felizmente!

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