quarta-feira, 2 de julho de 2014

SOPHIA




Sophia de Mello Breyner estará, a partir de hoje, no Panteão Nacional, em Lisboa, transladada dez anos após a sua morte, como sinal de reconhecimento pela sua obra literária e pela sua figura exemplar de cidadã.
Durante a cerimónia, ouviram-se poemas seus, numa gravação realizada há umas cinco décadas. A sua voz era nítida, como nítidas e esplendorosas lhe nasciam as palavras.
E muitas pessoas se juntaram no local para homenagear Sophia. Na fila da frente estavam os políticos, tendo alguns discursado. E lavaram as suas palavras com palavras de Sophia. E elogiaram a sua ética. E a sua obra poética. E o símbolo nacional que é. E mais e mais, porque os políticos sabem sempre como limpar o pó das suas palavras com palavras de poetas.
Falou-se também de “verdade” para a qual os textos da poeta remetem. E quem lê a sua obra – felizmente as crianças começam a ler bem cedo, nas escolas, histórias suas – apercebe-se que a sua verdade não são as verdades propagandeadas por muitos políticos, porque aquelas não deixam de ser meias verdades ou mentiras completas.
Ousaria dizer que Sophia teria gostado da homenagem, porque merecida, mas, ouvindo palavras de alguns políticos, teria preferido o mar. Desta vez, um mar de silêncio.

2 comentários:

  1. Grande análise crítica. Não fiques tão azeda. Pensa na taça de maçãs e nos physalis, sobretudo em tempo de correção de exames, também eles políticos!

    Um abraço
    CS

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  2. Obrigada. Não gosto muito de o ser, mas custa ver a discrepância entre o dizer e o fazer.

    Sim, a natureza é, de facto, um bom remédio. Com a vantagem de ser... natural.

    Beijinho e bom fim de semana.
    M.

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