domingo, 28 de dezembro de 2014

Cores breves

O dia seguinte
Conheci uma senhora que em todos os Natais oferecia rendas feitas por ela: a grande parte de biltros que trabalhava com gostosa destreza.
A família e os amigos mais próximos esperavam a prenda que vinha sempre de suas mãos. As embalagens eram sacos e papéis dos anos anteriores que a velha senhora guardava num cesto vermelho com a imagem de um meigo Pai-Natal.
Quando, na véspera do Natal, o cesto ficava vazio, logo começava outros trabalhos para o ano seguinte. 
Há alguns Natais que o ritual não se repete, mas os seus presentes tornam mais nítidas as cores do passado.

As estrelas
Há um par de anos que ela guardava estrelas feitas de cartolina. Sobrepostas e de cores claras e semelhantes, em cada Natal davam nova luz à entrada da casa. Reviviam numa árvore colhida no mato, de entre os arbustos secos. 
Este ano, às estrelas ela juntou umas luzinhas pequenas, aquecendo o frio cinzento do inverno.
Muito perto, o rio passava e, mesmo sem estrelas no céu, parecia mais tranquilo.

A casa
Há casas assim. Que unem. Que chamam. Que aquecem. Que contam histórias. Que trazem lembranças. Que convocam sorridentes antes e depois.
A casa era grande. Exigente de muitos cuidados que nem sempre podia receber. As paredes brancas iam-se tornando pardas e húmidas. 
A passagem do tempo é frenética; os afazeres nascem volumosos; a balança dos gastos e dos ganhos inclina-se para o primeiro prato...
Mas, mesmo assim, a casa continua a chamar, sobretudo pelo Natal. 
 Há casas assim. Que unem...

A história
Ele escreveu a história. Ela leu-a e gostou, reconhecendo a sua capacidade para a escrita. Como gostou, ela deu-a a ler a uma amiga, que vivia no país cuja língua ele escolhera para escrever a história, e que tinha vindo passar o Natal com a família.
A amiga também gostou e disse quase ter chorado no fim.
Esta amiga disse à outra amiga que tinha gostado da história. Não sei se lhe disse que quase tinha chorado no fim.
Mas ele quase chorou ao saber que o seu trabalho era apreciado. E que teria leitores. Nem que fossem poucos. 
E sobretudo porque o Amor e a escrita o conduziam a um mundo inesgotável de cores também traduzidas por palavras.




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