terça-feira, 27 de janeiro de 2015

"Não peço desculpa a ninguém"

Há muitos anos, ouvi alguém a dizer: "Não peço desculpa a ninguém". Não lhe atribuí qualquer forma de altivez ou mania da superioridade. O contexto era de despedida e vinham, entre abraços, à baila aquelas palavrinhas muito portuguesas (acho eu, mas, se calhar, não é bem assim): Desculpa qualquer coisinha.
Confesso que esta  expressão não é nada do meu agrado - pela palavra "coisinha" e se, de facto, houve qualquer coisa a despropósito, porquê deixá-la só para a hora da despedida? Se não houve, porquê dizê-lo? Também poderá introduzir a ideia de que a pessoa pode fazer o que lhe apetece e, depois, numas curtas palavrinhas, lava um bocadinho a fotografia.
Se calhar, por isso, a frase ouvida soou-me, naquele momento, como um sinal até positivo. Claro que afirmar que se não pede desculpa a ninguém é negar uma das características humanas que é errar e ter vontade de corrigir o erro.
Há dias, ouvi a mesma expressão num contexto escolar.  Um jovem disse e repetiu: "Não peço desculpa a ninguém". O eco, que chegou aos ouvidos dos presentes, fechava qualquer hipótese de mudança de comportamentos. Não surgia como reação a frase esgotada por tão repetida, mas como um muro que se erguia, apesar de ser ainda muito novo o construtor.
Da facto, as mesmas palavras podem assumir muitos sentidos, pelo contexto, pelo modo como são ditas, pelo motivo que levou a dizê-las...
 As vivências de uma jovem há trinta anos não se comparam a um adolescente dos dias de hoje.
Não consigo  é saber em que época as circunstâncias eram mais difíceis. E por isso peço desculpa.

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