sábado, 7 de março de 2015

Dia 8 de março. Só?


                            

Retrato de Mulher Triste
Menez
Vestiu-se para um baile que não há.
Sentou-se com suas últimas jóias.
E olha para o lado, imóvel.
Está vendo os salões que se acabaram,
embala-se em valsas que não dançou,
levemente sorri para um homem.
O homem que não existiu.
Se alguém lhe disser que sonha,
levantará com desdém o arco das sobrancelhas,
Pois jamais se viveu com tanta plenitude.
Mas para falar de sua vida

tem de abaixar as quase infantis pestanas,
esperar que se apaguem duas infinitas lágrimas.
       Cecília Meireles, in Poema

 

Calçada de Carriche                                                              
Luísa sobe,
sobe a calçada,
sobe e não pode

que vai cansada.                                                                     
Di Cavalcanti
Sobe, Luísa,
Luísa, sobe,
sobe que sobe
sobe a calçada.

Saiu de casa
de madrugada;
regressa a casa
é já noite fechada.
Na mão grosseira,
de pele queimada,
leva a lancheir

Graça Morais
desengonçada.
Anda, Luísa,
Luísa, sobe,
sobe que sobe,

sobe a calçada.
(...)
António Gedeão, in Poesias Completas

4 comentários:

  1. Lembro-me de um poema do Jorge de Sena que infelizmente ainda se adequa ao dia. Sabe qual é? Li-o na aula uma vez. Uma pista: contêm algumas palavras menos próprias para o quotidiano.

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  2. Se o reencontrares, João Pedro, manda-mo. O Jorge de Sena não era nada "politicamente correto". Também se o fosse, não teria deixado, por certo, a obra que deixou, embora bastante mal conhecida. Por mim falo, infelizmente.
    Um beijinho
    DG

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  3. Tive uma grande Professora de português no 10º e no 11º ano que nos leu/declamou o segundo poema de uma forma incrível e ficou-me na memória.

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  4. Que bom, Gabi.
    Procurei um vídeo na net para ilustrar o poema e não gostei das declamações que ouvi.
    Um beijinho
    M.

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