quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Quando...

Quando ficares velha, grisalha e sonolenta
E te aqueceres à lareira, toma este livro
Lê-o devagar e sonha com a doçura
E  as sombras profundas outrora nos teus olhos;

Quantos amaram os momentos de teu alegre encanto
E a tua beleza com falso ou sincero amor,
Mas apenas um homem amou em ti a alma peregrina
E as tristezas que alteravam o teu rosto;

E curvando-te mais sobre a lareira ao rubro
Murmura, um pouco triste, como o Amor se foi
E em largos passos galgou as montanhas
Escondendo o rosto numa imensidão de estrelas.


 
 
 
 
William Buttler Yeats,  poeta irlandês, 
nasceu a 13/6/1865 e morreu a 28/1/1939, há 76 anos.
(Informação da livraria Poetria)

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

"Não peço desculpa a ninguém"

Há muitos anos, ouvi alguém a dizer: "Não peço desculpa a ninguém". Não lhe atribuí qualquer forma de altivez ou mania da superioridade. O contexto era de despedida e vinham, entre abraços, à baila aquelas palavrinhas muito portuguesas (acho eu, mas, se calhar, não é bem assim): Desculpa qualquer coisinha.
Confesso que esta  expressão não é nada do meu agrado - pela palavra "coisinha" e se, de facto, houve qualquer coisa a despropósito, porquê deixá-la só para a hora da despedida? Se não houve, porquê dizê-lo? Também poderá introduzir a ideia de que a pessoa pode fazer o que lhe apetece e, depois, numas curtas palavrinhas, lava um bocadinho a fotografia.
Se calhar, por isso, a frase ouvida soou-me, naquele momento, como um sinal até positivo. Claro que afirmar que se não pede desculpa a ninguém é negar uma das características humanas que é errar e ter vontade de corrigir o erro.
Há dias, ouvi a mesma expressão num contexto escolar.  Um jovem disse e repetiu: "Não peço desculpa a ninguém". O eco, que chegou aos ouvidos dos presentes, fechava qualquer hipótese de mudança de comportamentos. Não surgia como reação a frase esgotada por tão repetida, mas como um muro que se erguia, apesar de ser ainda muito novo o construtor.
Da facto, as mesmas palavras podem assumir muitos sentidos, pelo contexto, pelo modo como são ditas, pelo motivo que levou a dizê-las...
 As vivências de uma jovem há trinta anos não se comparam a um adolescente dos dias de hoje.
Não consigo  é saber em que época as circunstâncias eram mais difíceis. E por isso peço desculpa.

domingo, 25 de janeiro de 2015

Por que não sou "nativa tecnológica"?

Apetece dizer: "Só sei que nada sei".
Um dos trabalhos práticos da ação de formação "Diferenciação pedagógica na sociedade de informação", que estou a frequentar na ESG, é a construção, no meu caso,  de um espaço online para partilha, com diferentes turmas, de conteúdos literários e gramaticais.
Optei pelo blogue, pensando eu que, com a experiência que já tenho - embora simples - teria a vida facilitada para a criação desse espaço de recolha e partilha de informação.
Pois, mas as coisas não são bem assim, quando não se tem destreza para as novas tecnologias - tal como demonstra qualquer criança ou jovem, ou adulto que há muito trabalha estas áreas.
Com efeito, este blogue, que, com muito prazer, vou alimentando, é blogger; o outro que estou a criar á wordpress e, já aí, existe uma diferença. O que seria muito simples para muitos, para mim, é difícil. Porém, quando consigo chegar ao fim de uma etapa, vem a alegria de a ter concluído.
Não quero pensar que não sou capaz. Também porque "Não vale a pena chorar sobre leite derramado", estando eu a anos-luz  de poder ter sido "nativa tecnológica".
Neste caso, como noutros, dava um imenso jeito!



Olhando laranjas


sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Gosto da palavra Delicadeza

Há uns anos, achava esta palavra lamecha, frouxa e morninha. Agora, que já passei por muitas e variadas situações com e sem delicadeza (da minha parte também, é claro), aprendi a apreciar mais este valor, quando é, naturalmente, genuíno.
Aprendi a ver que é posto em prática em qualquer idade, desde criança até à velhice. E os jovens também estão incluídos, apesar de, muitas vezes, se generalizar que são egoístas e duros na expressão.
Tenho alunas e alunos adolescentes que, aparentemente, sem qualquer esforço, são delicados, sem deixar de questionar, de fazer perguntas quando as respostas não os satisfazem, de exprimir acordo e desacordo; usando palavras adequadas sem o cinzento triste da acusação.
Às vezes, a expressão é séria; outras vezes, vem com um sorriso que a interação e comunicação prolongam.
Apetece dizer, então: que bom ser-se professor. Apesar de a sociedade não nos ligar nenhuma, apesar de para o Ministério sermos apenas um número que dá jeito na multiplicação de responsabilidades, na soma de deveres, na subtração de regalias...
Mas muitos jovens (e não jovens) não são nada delicados e saltam-lhes aos olhos e às palavras a aspereza da vida que interiorizaram pelas mais variadas razões.
E damos connosco a pensar que não somos com eles tão delicados como com os que  gravaram nos gestos e vocabulário a delicadeza que lhes foi amorosamente transmitida, essencialmente pela prática.
Hoje lembrei-me desta palavra a propósito de um filme vídeo que me emprestaram: "E agora, onde vamos"? de Nadine Labakl.
Leio um comentário: "De uma rara delicadeza...soberbo".
Promete, então. Logo que possa, vou vê-lo.
Preciso de momentos em que a delicadeza fale por si. Para com eles também aprender.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

As Amoras


Josefa de Óbidos

O meu país sabe as amoras bravas
no verão.    
Ninguém ignora que não é grande, nem inteligente, nem elegante o meu país,
mas tem esta voz doce
de quem acorda cedo para cantar nas silvas.
Raramente falei do meu país, talvez
nem goste dele, mas quando um amigo
me traz amoras bravas
os seus muros parecem-me brancos,
reparo que também no meu país o céu é azul.

 Eugénio de Andrade  nasceu a 19/1/1923,  há 92 anos e morreu a 13/6/2005.(Informação da livraria Poetria)

sábado, 17 de janeiro de 2015

Sábado



Uma ação de formação durante a manhã: Diferenciação pedagógica na sociedade de informação.
Agrada-me. Esqueço-me de que tinha pensado poucas horas antes que preferia ficar em casa. Para mais, estava frio. Para mais, a semana tinha sido cansativa de tantas tarefas para que os professores são convocados.
Para não falar das salas quentes e dos corredores gelados e logo a tosse, os espirros e outras mais tosses e outros espirros. Para não falar das turmas de trinta alunos e salas que encolheram depois das obras na escola.
Oiço com atenção o que as minhas colegas formadoras dizem, prepararam, partilham. Gosto da ideia de se aproveitar "a prata da casa", as experiências por muitos realizadas e que caem no esquecimento quando não comunicadas para além da sala de aula.
Fala-se dos "nativos" dos computadores - os jovens cuja intuição os faz percorrer habilmente os espaços virtuais. Gostava de saber mais de computadores - penso eu. Continuarei a pedir ajuda a alguns alunos no uso das novas tecnologias - o que não é pecado nenhum.
Almoço junto ao rio Douro. Já quase mar. Os barcos passam com turistas poucos, porque o frio é muito. E também a neblina. E também o cinza  por onde esvoaçam as gaivotas.
As pontes desenham ogivas no nevoeiro. De regresso, no carro, ouvindo a antena 2, ecoa a voz de Miguel Torga que nos deixou há vinte anos.
 Chove. A noite vai caindo. Os carros escasseiam na rua. O frio não é frouxo.
 Já longe do rio, pressinto gaivotas também protegidas por telhados. Saberão que é sábado?

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Sem rédea


 
Hoje, numa aula de décimo ano, estivemos a analisar a crónica "Tamanho do mundo", de António Lobo Antunes (in Visão 20 de abril, 2006).
A propósito, vieram as diferentes associações que fazemos através da memória. Uma menina contou, então, que tinha ido ao Bom Jesus, em Braga, e que lá reencontrara o velho fotógrafo que lhe tinha tirado um retrato, sentada no cavalinho de cartão, quando ela tinha dois anos. Uma outra falou de velhos postais que a avó guardava desde os tempos da guerra colonial em África... E todos os que iam intervindo referiam as sensações que uma simples imagem, lugar ou momento desencadea(va)m.
Perante o entusiasmo e junção de tantas ideias, disse-lhes que, em breve, poderiam construir a sua própria crónica.
Uma aluna perguntou então:
- E podemos escrevê-la sem rédea?
Não entendi logo, ou melhor, pensei que se estava a referir à possibilidade de o tema ser livre.
- Não, setora, não é isso, se podemos escrever sem haver número limite de palavras, sem divisão do texto em parágrafos, sem palavras obrigatórias...
- Sim, desta vez,  escreverão sem rédea, respondi eu.
E pensei logo que teria, porém, de encontrar um tema comum.
- Ó, setora,  vamos escrever, então, sem rédea, perguntou outra aluna muito perspicaz, enquanto olhava pela janela!
Sem querer, estava-me a dar o mote.