sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Praça pública

O tempo estava londrino - cinzento e húmido. Era quase outono. Num  largo, concentravam-se vários pubs, cafés, umas poucas lojas de roupa, outras tantas de solidariedade e que vendiam o que era doado para algumas instituições.
Também bem próximo,  havia um pequeno supermercado que tinha o cognome de Essencial. Fora, havia uns bancos de jardim, onde os mais velhos se sentavam a ver quem passava ou a conversar com o companheiro ou companheira. Numa fase da vida em que o essencial contava bem mais do que o acessório.
Ora, nesse dia, num dos bancos, estavam sentadas duas mulheres, mãe e filha,  parentesco logo pressentido  pelas semelhanças físicas entre elas e pela grande diferença de idades.
Ambas eram bem robustas, tinham cabelos encaracolados e presos em rabos de cavalo. A mais velha usava roupas tão compridas que, sentada, quase lhe tapavam os pés. O cabelo era mais curto, mais grisalho e mais crespo do que o da filha, cujas roupas também eram largas e longas.
Como eram volumosas e tinham um saco grande do supermercado, ocupavam todo o banco. Foi quando a mais nova tirou frango do saco e as duas começaram a comer com vagar e aparente regalo. Quando terminaram, olharam as pessoas que passavam naquela pequena praça, uma a uma, tendo no rosto, cheio e corado, alguma dor por terem de ir para as águas furtadas, onde residiam e donde nem a rua podiam avistar. Na casa, havia uma mesa mas nela se instalava sempre a cinzenta e húmida solidão.

Sem comentários:

Enviar um comentário