sábado, 3 de dezembro de 2016

"Odeio!", "Teadoro"...

Ontem, fui a uma loja de roupa e ouvi uma das palavras que é muito recorrente, sobretudo entre os jovens, em relação a qualquer peça, ou cor, ou modelo de que não se gosta: "odeio".
Claro que não é para levar à letra, mas acho bizarro este verbo usado neste contexto..
Cliquei num dicionário eletrónico e encontrei sobre o verbo "odiar":
"transitivo direto e pronominal
sentir aversão por (algo, alguém, a si próprio ou um ao outro); detestar(-se), abominar(-se)."
Ora, não gostar de uma cor - como era o caso - não implicaria sentimento tão extremo.
Porém, eu era incapaz de comprar um casaco amarelo-canário, verde-alface, rosa-choque...
Poderia dizer que odeio e poupava palavras porque digo: sou incapaz de usar essas cores, não me vejo com essas cores...
Por outro lado, odeio cenários de guerra que destroem vidas e a vida de muitos seres humanos; odeio o desrespeito pelos mais frágeis, neles cabendo as crianças e os velhos; odeio a destruição voluntária de bens que pertencem à história da Humanidade; odeio os maus tratos domésticos, como se houvesse donos e vassalos; odeio a ambição desmedida dos que empurram, com um sorriso e pancadinhas nas costas, os que não são hábeis e corruptos...
E talvez as jovens que disseram odiar já não sei que cor odeiem também tudo isto. E oxalá que sim.
E, quem sabe, talvez gostem - ou melhor, amem, odorem, curtam, etc, alguns poetas.
Eu, por mim, gosto, amo, adoro, curto este poeta e este poema:

"Beijo pouco, falo menos ainda.

Mas invento palavras
Que traduzem a ternura mais funda
E mais cotidiana.
Inventei, por exemplo, o verbo teadorar.
Intransitivo:
Teadoro, Teodora"

Manuel Bandeira


Quem pode dizer que o(s) odeia?


Sem comentários:

Enviar um comentário