terça-feira, 11 de abril de 2017

Quem tem razão?

Na comunicação social, têm aparecido versões muito diferentes dos distúrbios causados num hotel do sul de Espanha por estudantes portugueses. Há testemunhos a pretender demonstrar que foram coisas de pouca monta em relação às acusações do hotel, embora este não mostre imagens dos locais onde diz ter havido atos de vandalismo.
Ao longo da minha vida de professora, convivi com o entusiasmo de muitos alunos que, muito tempo antes da viagem, começavam a falar dessas férias da Páscoa sem os olhares críticos dos pais ou dos professores. Pelos dezassete-dezoito anos é natural que assim seja, como natural é que muitos não fossem por não se sentirem atraídos por viagens em multidão.
Quando regressavam, as histórias sobretudo de excessos continuavam a ser partilhadas nos intervalos e também, em voz mais ou menos baixinha, nas aulas.
Em muitos casos, passou a ser um ritual iniciático que contribuirá para a construção de autonomias e abertura ao mundo, sobretudo para os jovens que não têm a possibilidade de viajar.
O pior é que muitos alunos se habituam a ser desculpabilizados no dia a dia. Depois em grupo, quando se sentem libertos de quaisquer amarras, destroem o que podem como forma de protesto ou simplesmente porque não se controlaram ou querem mostrar o seu poder. Haverá sempre alguém para os defender.
Sempre achei que são muito mais numerosos os alunos com bom desempenho cívico do que aqueles que transgridem as regras, mas estes, ainda que em número reduzido, roubam muito tempo e muita paciência, sendo desculpabilizados em muitas situações. Ou porque os objetos não devem estar ao seu alcance, ou porque os funcionários têm de exercer mais vigilância, ou porque há outros que também o fazem... E falo também de alunos do ensino secundário.
Por isso, poucos ou muitos estragos não deveriam acontecer e oxalá que os pais oiçam os jovens que destruíram coisas no hotel ou os que nada fizeram de mal, de modo a que todos aprendam com isto e não seja mais um motivo para, entre duas mensagens de telemóvel e quase sem levantar os olhos do ecrã, dizerem que a culpa é dos outros.
Mas o hotel também não fica muito bem na fotografia com o lucro a fazer festas aos bolsos. E talvez as Agências de Viagens devam ter outros cuidados na preparação das visitas para multidões de jovens.
De outro modo, será mais um momento triste nacional em que a culpa é de todos e não é de ninguém.



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