quarta-feira, 8 de novembro de 2017

Peregrinação de cada um!


Há dias, fui ao cinema Trindade, no Porto, ver o filme Peregrinação, do realizador João Botelho.
Quando entrei, a sala estava quase vazia. Minutos depois, começaram a chegar muitos idosos, ocupando quase todos os lugares.
Ouvi depois que eram utentes de um lar e que estar ali resultava de uma "Caixinha dos desejos", que, desta vez, se traduziram numa ida ao cinema. Achei uma bonita  ideia.
Via-se que alguns daqueles idosos não estavam habituados a ir ao cinema.
Ora, o filme dura 110m, sem intervalo, e exibe muitas das dificuldades e relações violentas vividas pelos marinheiros portugueses, no séc. XVI, através dos olhares de Fernão Mendes Pinto, que os transpôs para o seu livro Peregrinação.
Atrás de mim, ouvia-se uma voz que repetia: "Nunca mais acaba", outra: "Preciso de ir à casa de banho".
Talvez, quando regressassem ao Lar, dissessem que não tinham gostado muito do filme.
Talvez os cuidadores presentes, numa atitude muito louvável, ficassem satisfeitos com a oportunidade de proporcionar aos velhos um cinema sem barreiras arquitetónicas, ver um filme português, aprender um pouco mais da nossa História, conviver, conversar depois sobre diferentes assuntos, conhecer uma boa obra de arte, etc.
Talvez os dinamizadores do cinema Trindade ficassem felizes  ao verem que o grupo estava feliz por vir ao cinema.
E talvez  alguns idosos retivessem somente cenas bonitas, paisagens bonitas, músicas bonitas, jovens bonitas, para atenuar as cenas mais violentas ou aflitivas de confronto humano ou com forças da natureza.
Porque às vezes já basta a longa e pesada peregrinação de cada um!

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