quarta-feira, 21 de novembro de 2012

O nosso carro é um abrigo

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Os carros da polícia estão cada vez mais próximos. O barulho das sirenes faz-me doer os ouvidos e as luzes cegam-me os olhos. Até dou um salto, de tão assustada que estou.
— Não te mexas, Zettie — avisa a minha mãe. — Não podemos dar nas vistas.
Enfiamo-nos por entre as roupas que estão no assento traseiro do carro.
— Mãe, é um bocado assustador dormir no carro — sussurro.
A minha mãe concorda:
— Eu sei. Estão sempre a acontecer coisas e os carros da polícia andam sempre em perseguições. 
E abraça-me com força, enquanto dura o barulho das sirenes.
Quando fica tudo em silêncio, a minha mãe conduz pela Chandler Avenue e estaciona diante do pátio de um bloco de apartamentos, cujo jardim está cheio de flores: buganvílias, rosas, hibiscos. À luz dos candeeiros da rua, as cores são tão alegres como as das flores do pátio que deixámos em Port Antonio. Adoramos estacionar neste sítio.
Durante semanas, um letreiro a dizer “Aluga-se” esteve pendurado numa das janelas. Na semana passada, quando perguntámos pelo andar, o dono disse-nos que só o alugava a pessoas com um emprego fixo. E queria dois meses de renda adiantados, dinheiro que a minha mãe não tem.
Fecho os olhos e vejo-me na terra dos meus sonhos, com o meu pai e a avó Mullins. Estamos na Jamaica, a fazer um piquenique na praia. As ondas rebentam de encontro às rochas e acordo com o barulho. Afinal, não estou na Jamaica. Estou na América. E não foi o barulho das ondas que me acordou, mas alguém a bater na janela do nosso carro.
A luz de uma lanterna ofusca-nos os olhos.
— O que está a fazer aqui, minha senhora? — pergunta um polícia, num tom de voz duro.
— A minha filha e eu só estamos aqui a passar a noite, senhor.
— Aqui não é permitido estacionar à noite — informa o agente. — Tem de procurar outro lugar.
— Eu procuro, senhor, mas não estamos a fazer nada de mal — diz a minha mãe.
Depois, senta-se ao volante e saímos dali.
As lágrimas deslizam-lhe pela face, como quando o meu pai morreu.
Chego-me à frente e acaricio-lhe os caracóis.
— Ó mãe, porque não vamos para a Magnolia Avenue? Lá, os polícias nem sequer incomodam o Senhor Williams, quando ele dorme no banco do parque.
— Boa ideia, filha! Tinha-me esquecido desse lugar.
A minha mãe estaciona o carro na Magnolia Avenue e aconchegamo-‑nos. Em breve adormeço nos seus braços.
Preto de copas (cartas)Preto de copas (cartas)Preto de copas (cartas)Preto de copas (cartas)
Na manhã seguinte, bem cedo, a minha mãe acorda-me e diz:
— Vamos utilizar a casa de banho do parque antes que fique cheia de gente.
Está muito frio lá dentro e tremo enquanto visto o meu uniforme escolar. Depois, salpico a cara com a água da torneira.
— Esta água é fria como gelo, mãe.
— Tens de ser corajosa! — murmura ela.
Saímos e sentamo-nos num banco. A minha mãe faz-me quatro tranças, como eu gosto, embora puxe o meu cabelo com força para que fiquem bonitas. Começo a cantar uma canção que inventei, para me distrair dos puxões. A minha mãe canta comigo, durante algum tempo, mas, quando canto mais alto, põe um dedo nos lábios e diz:
— Canta mais baixo, Zettie. Ainda acordas o Senhor Williams.
Depois, abre a nossa pequena geleira e faz sanduíches com manteiga de amendoim e geleia. Bebemos o resto de um refresco de laranja. É doce, mas, como já tem três dias, não sabe muito bem.
— Quem me dera um chocolate quente — digo. — Como aquele que fazias com os grãos de cacau que apanhávamos perto de casa.
— Sinto-me triste por não poderes beber um — diz a minha mãe, olhando-me nos olhos.
Em seguida, pergunta-me:
— Lembras-te do sol da Jamaica? De como brilhava depois de uma chuvada?
Claro que me lembro. Sobretudo em dias frios e enevoados como o de hoje. Por que razão morreu o meu pai? Os empregos temporários da minha mãe e o curso profissional que frequenta com tanto esforço fazem com que todos os dias sejam escuros e húmidos.
— Quando arranjar um trabalho fixo, o sol vai brilhar de novo — diz a minha mãe, como se conseguisse ler os meus pensamentos.
Fico calada. Já a ouvi dizer isto muitas vezes, mas sei que as coisas agora estão mais difíceis. A caminho da escola, pergunto:
— Mãe, será que podias…
— Podia o quê, Zettie?
— Deixar-me ficar na esquina por detrás da escola?
— Porquê? — pergunta.
— Por causa de uns rapazes maus que dizem que o nosso carro é um pedaço de sucata velha. E também fazem troça da bandeira no vidro. Não podemos tirá-la, mãe? — pergunto.
A minha mãe para o carro e dá-me um abraço.
— Não lhes prestes atenção, filha. Estuda, como o teu pai fazia, e anda de cabeça erguida. Eu tiro a bandeira.
Apresso-me a sair.
— Espero por ti no recreio depois das aulas — digo à minha mãe, virando-me para trás.
Quando ela me vai buscar depois das aulas, enfio a cabeça no casaco para não ser reconhecida ao esgueirar-‑me para dentro do carro.
— Hoje, não havia empregos de escritório na agência — diz.
— Isso significa que vamos comer manteiga de amendoim e geleia à noite, outra vez? — pergunto.
— Não, porque fiz outra coisa. Adivinha o que foi.
— Nunca mais teremos um apartamento se tu não tiveres um emprego fixo.
— Distribuí panfletos numa Feira de Saúde. Não fiz muito dinheiro, mas tenho o suficiente para comprar o jantar e meter gasolina no carro.
Fico com a cara a arder e sinto um aperto no peito. Porque não pode a minha mãe ter outro tipo de trabalho? A fome faz-me esquecer a tristeza.
— Podemos partilhar cachorros quentes e queques com a Ana Mae e o Benjie?
Preto de copas (cartas)Preto de copas (cartas)Preto de copas (cartas)Preto de copas (cartas)
Quando chegamos ao parque, o Benjie corre ao meu encontro. Tem oito anos, como eu, mas é pequeno e franzino. A minha mãe faz jantar para todos. Os olhos do Benjie brilham e pergunto-me se terá comido alguma coisa hoje. Depois da refeição, pergunta-me:
— Queres vir comigo procurar latas e garrafas vazias para vender?
— Não sei… — hesito.
A minha mãe é muito atenta e não gosta que eu ande a remexer em coisas. O Benjie está a poupar o dinheiro das latas e das garrafas que apanha para ajudar a mãe. Já tem 1 dólar e 50 cêntimos.
— Fiquem por perto e sejam cuidadosos — pede a minha mãe.
O Benjie corre por entre as árvores à procura de garrafas e latas. Mas, quando começa a procurar no lixo, digo-lhe que é perigoso e ele para. O montão de latas que arranjou deixa-nos satisfeitos. É capaz de lhe render outro dólar.
— És a minha melhor amiga — diz, enquanto se despede com um aceno.
— Também tu és o meu melhor amigo — replico.
Nessa noite, a minha mãe e eu aconchegamo-nos no banco traseiro do carro e ela lê-me um livro que requisitamos na biblioteca.
— Dormir no carro é melhor do que no albergue da igreja — digo. — Detestava aquele lugar barulhento e cheio de gente! Havia um bebé que chorava constantemente, lembras-te?
— Por isso, prefiro usar o nosso carro como abrigo — responde a minha mãe.
Aninho-me contra ela, enquanto estuda para um dos seus exames.
Preto de copas (cartas)Preto de copas (cartas)Preto de copas (cartas)Preto de copas (cartas)
No dia seguinte, depois das aulas, leio o meu livro, enquanto espero pela minha mãe no recreio. Mal viro a página, o Alex, que é um rufia, põe-se atrás de mim e puxa pelas minhas tranças.
— Olha a Zettie da chocolateira! — troça. — Vejam só a Zettie da chocolateira! — diz para os amigos.
Todos se riem e gritam “Zettie da chocolateira!”
— Palermas! — respondo.
Ficam furiosos e o Alex volta a puxar-me as tranças com força.
Sinto-me assustada. Não vejo nenhum professor. O que hei de fazer? Acabo por desatar a correr o mais depressa que posso. Saio do recreio, desço a rua e paro numa esquina onde já não me podem ver. Estou sem fôlego quando vejo a minha mãe junto do portão da escola. Sai do carro à minha procura.
— Mãe, mãe! — chamo e aceno.
Contudo, ela não me vê. Volta a entrar no carro e dá meia-volta. Grito mais alto e corro, mas tropeço e vejo-a afastar-se. O meu joelho ficou esfolado e a sangrar. Coxeio até à esquina. Depois, sento-me e choro. As nossas vidas mudaram tanto depois da morte do meu pai…
Espero mais um pouco, sem tirar os olhos do recreio, mas a minha mãe não regressa. Para onde terá ido? Saber que anda à minha procura ainda me faz chorar mais. Abro os olhos quando ouço o ruído de uma moto a parar junto de mim. É um polícia! Será que me meti em sarilhos?
O polícia pergunta:
— Estás perdida?
— Não, senhor. A minha mãe atrasou-se a vir-me buscar.
— Não posso deixar-te sozinha — diz, num tom de voz amável.
Fica junto de mim, mas não demasiado próximo. Não sabia que um polícia podia ser tão gentil. Pensava que eram todos maus.
A espera parece-me eterna e dou-me conta de que, num mundo cheio de pessoas, só tenho a minha mãe. Onde se terá ela metido? O que será de mim se algo lhe acontecer? Será que o polícia vai pôr-me numa família de acolhimento? Viver num carro não é a melhor situação, mas, pelo menos, tenho a minha mãe para me amar e cuidar de mim.
Ouço um carro a buzinar. É a minha mãe. Pergunta-me, a chorar:
— Porque saíste do recreio, Zettie?
Entre soluços, conto-lhe o que aconteceu.
— Tive medo, mãe. Por isso fugi para aqui.
— Pensei que tinhas ido para o parque. O Benjie e a Ana Mae ajudaram-me a procurar-te. Ficámos tão preocupados. Graças a Deus que estás bem.
A minha mãe acena para o polícia, para lhe dizer que está tudo bem, e eu forço um sorriso, por entre as minhas lágrimas. Vejo que deve ter chorado muito por minha causa, porque ainda tem os olhos vermelhos.
Abraça-me e diz:
— Esta noite, precisamos de relaxar as duas. Trabalhei o dia todo na Feira de Saúde e pagaram-me mais horas. Vamos festejar!
Comemos esparguete e gelado na cafetaria. Depois do jantar, a minha mãe pisca o olho.
— Hoje vamos dormir numa cama a sério!
— Num motel? Naquele superconfortável onde dormimos na última vez? — exclamo.
Mal entramos no quarto, precipito-me para a casa de banho e abro o chuveiro. A água faz-me cócegas nas costas.
— Ó mãe, a água quente sabe tão bem! Quem me dera tomar um duche todos os dias!
Quando entro na cama, estico-me, sacudo os dedos dos pés e puxo o lençol limpo até ao nariz. A minha mãe abraça-me, chama-me Botão-de-‑Ouro e sinto todo o seu amor inundar-me.
— Gostavas de dormir numa cama este Verão em vez de no carro? — pergunta-me. — É que uma senhora ofereceu-me um emprego na Feira de Saúde. Vou ajudar a criar um programa para pessoas como nós, com dificuldade em arranjar casa. Vamos poder alugar um quarto — diz a minha mãe.
— Ó mãe, será que vais conseguir poupar para aquele apartamento com jardim enquanto lá trabalhas? E continuar a estudar?
— Espero que sim! — diz ela, abraçando-me com mais força.
Aninho-me nos seus braços e digo:
— Desculpa se, às vezes, me porto mal.
Depois, aninho-me ainda mais e adormeço, sabendo que, com ou sem apartamento, tenho a minha mãe e que ela tem-me a mim.
Monica Gunning
A shelter in our car
San Francisco, Children’s Book Press, 2004
(Tradução e adaptação)

domingo, 18 de novembro de 2012

 Imagem que ilustra o texto: "Uma questão de bocados..."

Blogue: CARRUAGEM 23
Mensagem: Uma questão de bocados...
Hiperligação: http://carruagem23.blogspot.com/2012/11/uma-questao-de-bocados.html



Vale a pena consultar o blogue Carruagem 23 - a propósito da questão que a legenda  pode levantar.

Encontraremos outras respostas para outras perguntas sobre a Língua Portuguesa. E não só, porque o conhecimento da língua remete também para o conhecimento do mundo.

Obrigada, Vítor.

Desejo - só por ser domingo?

Tanner M. Lawley 


Prourei um texto que falasse de domingo
Drummond de Andrade veio-me logo à cabeça.
Escolhi este: quente, carinhoso, sensual...
E não fala só de domingo!

Apesar de bastante simplicidade
dos meus textos, gosto imenso de os partilhar aqui, 
mas se escrevesse algum nesta manhã, 
não poderia corrigir testes.
Como quero chegar ao fim do dia e sentir-me (mais) tranquila, 
vou voltar-me para a correção de trabalhos, 
o que, pensando bem,  não é nada mau.
E pode ser que tenha a alegria de ver (algumas) boas notas!


DESEJOS

Desejo a vocês...

Fruto do mato
Cheiro de jardim
Namoro no portão
Domingo sem chuva
Segunda sem mau humor
Sábado com seu amor
Filme do Carlitos
Chope com amigos
Crônica de Rubem Braga
Viver sem inimigos
Filme antigo na TV
Ter uma pessoa especial
E que ela goste de você
Música de Tom com letra de Chico
Frango caipira em pensão do interior
Ouvir uma palavra amável
Ter uma surpresa agradável
Ver a Banda passar
Noite de lua cheia
Rever uma velha amizade
Ter fé em Deus
Não ter que ouvir a palavra não
Nem nunca, nem jamais e adeus.
Rir como criança
Ouvir canto de passarinho.
Sarar de resfriado
Escrever um poema de Amor
Que nunca será rasgado
Formar um par ideal
Tomar banho de cachoeira
Pegar um bronzeado legal
Aprender um nova canção
Esperar alguém na estação
Queijo com goiabada
Pôr-do-Sol na roça
Uma festa
Um violão
Uma seresta
Recordar um amor antigo
Ter um ombro sempre amigo
Bater palmas de alegria
Uma tarde amena
Calçar um velho chinelo
Sentar numa velha poltrona
Tocar violão para alguém
Ouvir a chuva no telhado
Vinho branco
Bolero de Ravel
E muito carinho meu.

Carlos Drummond de Andrade

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Diane Fumat

Quando voltares, põe na tua voz
aquela flor azul que te ofereci.
Talvez, assim, eu julgue reencontrar-te
e os olhos se encham, outra vez.
*
Ainda tens no gesto aquele susto
que se enrolava todo nos meus dedos
e punha à nossa volta
um colar de silêncio ardendo.
*
Tudo mudou, bem sei. Naquela tília
o outono já começou;
e nas tuas palavras
algumas folhas devem ter caído.
*
Mas, se voltares, põe a flor azul,
põe o passado no gesto e na voz.
Talvez assim eu julgue reencontrar-te
e os olhos se encham. É tão fácil!
António Cabral


Este foi um dos poemas que IA enviou a um grupo de amigos. 
A imagem também.
Chegaram no "postal de fim de semana".
Belíssimo poema este. Para ler devagar do princípio ao fim.
Assim, "É tão fácil"!  

Le plus beau des cadeaux



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Un homme vient tout juste d’être père. Et pour la première fois, il pleure de joie.
C’est le plus beau jour de sa vie.
Il veut aussitôt faire un cadeau à son fils, son bébé, son premier-né, mais, comme souvent les pères, il n’a aucune idée de cadeau. Il a beau réfléchir un jour, puis deux, puis trois, il tourne en rond et finit par demander conseil à sa femme.
— Pourquoi tant te tracasser ? Quel que soit ton cadeau, tu fais bien. Le cadeau d’un père à son enfant, c’est toujours le plus beau des cadeaux !
L’homme fronce les sourcils :
— Des mots tout ça, je veux une idée de cadeau, moi.
Toujours en quête d’un conseil utile, le père interroge ses plus proches amis.
— L’amour, voilà le plus beau cadeau. Celui qui reçoit de l’amour, reçoit tout. Celui qui manque d’amour, manque de tout.
Mais le père hausse les épaules :
— Encore de belles paroles !
Toute la nuit, il passe en revue les jouets qu’il connaît : ballons, billes, balles, bulles, peluches, marottes, hochets, clochettes, mobiles, cheval à bascule, mikado, lego, petits chevaux, tirelire, crayons de couleurs, poupées, canes, dés, puzzles, déguisement de pirate... Les jouets défilent devant ses yeux et les idées tournent dans sa tête comme une toupie.
« Une toupie ! Voilà une bonne idée de cadeau pour mon fils, mon bébé, mon premier-né ! » Et, tout excité, le père attend l’heure d’ouverture du magasin de jouets, au coin de sa rue. Il veut être le premier client.
— Bonjour, madame, je voudrais, s’il vous plaît, la plus belle toupie du magasin. C’est pour mon fils, mon bébé, mon premier-né. Je veux ce qu’il y a de mieux. Le prix n’a aucune importance.
La vendeuse sourit et, farfouillant dans un tiroir derrière le comptoir, elle en sort une toupie multicolore.
— C’est vraiment la plus belle toupie de votre magasin ?
— Certainement, monsieur. Regardez, je la fais tourner sous vos yeux. Quel voyage au pays des couleurs ! Cette toupie resplendit comme un vêtement tout neuf !
À ces mots, le père ne dit rien mais n’en pense pas moins : « Si cette vendeuse me dit que cette toupie resplendit comme un vêtement pour mon nouveau-né ! » Et il sort précipitamment du magasin de jouets pour se rendre dans le magasin de vêtements d’enfants le plus proche.
— Monsieur, s’il vous plaît, je voudrais un pantalon, le plus beau pantalon du magasin. C’est pour mon fils, un tout bébé, un nouveau-né. Je veux ce qu’il y a de mieux, le prix n’a aucune importance.
— Je vois, dit le vendeur. Un pantalon de premier âge, pour un cadeau de naissance, n’est-ce pas ?
— Oui, c’est ça. Mais de première qualité, je veux ce qu’il y a de mieux.
— Nous ne faisons que la première qualité, monsieur. Ne vous inquiétez pas, j’ai ce qu’il vous faut.
Et le vendeur se saisit d’une boîte, tout en haut d’une étagère, il l’ouvre et en sort un petit pantalon enveloppé dans du papier de soie, un adorable petit pantalon couleur ciel clair.
— Touchez, monsieur, la qualité de ce tissu est exceptionnelle.
— Mais c’est vraiment le plus beau pantalon de bébé du magasin ? s’inquiète le père, répétant : Je veux ce qu’il y a de mieux !
— Je vous assure qu’il n’y a pas plus confortable que ce modèle. Le tissu est doux, moelleux, comme la mie du pain tout chaud qui sort du four.
Le père sursaute à ces mots et réfléchit : « Si ce vendeur me dit que le pantalon pour mon fils est doux comme la mie du pain qui sort du four, alors un pain tout chaud, c’est mieux pour mon bébé, mon nouveau-né ! »
— J’ai changé d’avis, dit-il au vendeur, et le père sort précipitamment pour se rendre à la boulangerie.
— Je veux le meilleur pain, celui qui est tout chaud, celui qui vient de sortir du four. C’est pour mon fils, mon bébé, mon premier-né. Je veux lui offrir le plus beau des cadeaux !
— Ah, dit la boulangère, quelle bonne idée ! Après le lait de sa mère, le bébé doit sentir l’odeur du pain et la douceur de la mie, c’est important aussi.
— N’est-ce pas ? dit le père tout heureux. Mais je veux le meilleur pain de la boulangerie !
— Voilà, monsieur, prenez, il est tout chaud, et croyez-moi, la mie de ce pain-là est aussi tendre et fondante que la chair d’un petit agneau qui vient de naître !
« Ça par exemple ! se dit le père, si la boulangère me dit que son pain est aussi fondant que la chair d’un agneau, alors un agneau c’est mieux pour mon bébé, mon nouveau-né ! » Et le père rend le pain à la boulangère, marmonne une excuse et, une fois dehors, fonce tout au bout de la rue, à la sortie de la ville, où commence la campagne.
— Berger, berger, cherche-moi le plus petit, le plus tendre, le plus fondant de tes agneaux, je veux faire un cadeau à mon fils, mon premier-né. Je veux le plus bel agneau de ton troupeau, le prix ne compte pas !
— J’en ai justement un de quelques jours. Le petit tient à peine sur ses pattes et n’a pas encore quitté sa mère.
— Ce qu’il me faut, c’est ce qu’il y a de mieux !
— Je vous comprends ! Un agneau qui vient de naître, c’est un joyau, c’est aussi précieux que l’or !
« Ah ! décidément, se dit le père, si le berger me dit que son agneau est précieux comme de l’or, l’or c’est mieux pour mon bébé, mon nouveau-né ! »
— Désolé, j’ai changé d’avis.
Sans hésiter, le père fait demi-tour et, d’un pas alerte, retourne en ville chez le bijoutier.
— Je veux de l’or, le plus doré de la boutique. Le prix ne compte pas, je veux ce qu’il y a de mieux, c’est pour mon fils, mon bébé, mon premier-né !
La bijoutière sourit, amusée :
— Je vous propose mieux que de l’or, de la poussière d’or ! Comme vous n’en avez jamais vu. Admirez-moi cette finesse, cette fluidité, cette brillance, comparable à une poussière d’étoiles dans la nuit noire...
— Oui, c’est très beau, mais je veux le plus beau, de jour comme de nuit, pour mon fils, la chair de ma chair, montrez-moi ce que vous avez de mieux !
— Je tiens cette poussière d’or pour aussi délicate qu’une eau de parfum d’immortelles !
« Dans ce cas, raisonne tout bas le père, autant offrir une eau de parfum d’immortelles à mon fils, mon bébé, mon premier-né ! »
— Désolé, dit-il à la bijoutière, mais j’ai changé d’avis.
Et il sort pour se rendre chez le parfumeur.
— Donnez-moi, je vous prie, un flacon de parfum d’eau d’immortelles. C’est pour mon fils, mon bébé, mon nouveau-né, je veux lui offrir le plus beau des cadeaux, le prix est sans importance.
— Eh bien, vous ne pouviez pas mieux choisir que cette eau de parfum du paradis. Elle est si subtile, si délicate... Par les temps qui courent, je dirai même qu’une eau de fleurs d’immortelles est aussi rare qu’une colombe de la paix.
« Eh bien alors, se dit le père, autant offrir une colombe de la paix à mon fils, mon bébé, mon nouveau-né ! » Et s’adressant au parfumeur :
— Je reviendrai, merci beaucoup pour le conseil !
Et le voilà qui court chez le marchand d’oiseaux.
— Montrez-moi, s’il vous plaît, une colombe de la paix. C’est pour mon bébé, mon nouveau-né, je veux lui faire un cadeau qui n’a pas de prix !
— Regardez-la, dans la cage derrière vous. Admirez la simplicité, la blancheur des ailes ; il ne lui manque que le rameau d’olivier dans le bec !
— Oui, oui, dit le père tout excité d’avoir peut-être trouvé le cadeau pour son fils. Est-ce que c’est vraiment ce que vous avez de mieux à me proposer ? Je n’achèterai que ce qu’il y a de mieux !
— Ne craignez rien, je vous assure qu’une colombe comme celle-ci, c’est si précieux qu’un premier baiser d’amour !
— Un premier baiser d’amour, s’écrie le père... Attendez, j’ai changé d’avis, je vous en supplie, suivez-moi !
— Volontiers.
Et voilà le marchand d’oiseaux qui suit le père dans la rue. Ils arrivent devant la parfumerie où le père appelle le vendeur :
— Venez, venez, suivez-nous !
Le parfumeur ferme son magasin et suit le marchand d’oiseaux qui suit le père. Ils arrivent devant la bijouterie. Le père invite la bijoutière à fermer la boutique pour les suivre. Elle suit le parfumeur, qui suit le marchand d’oiseaux, qui suit le père jusque dans les champs.
— Berger, berger, suivez-nous !
Le berger laisse le troupeau à son chien pour suivre la bijoutière, qui suit le parfumeur, qui suit le marchand d’oiseaux, qui suit le père. De retour en ville, le père passe à la boulangerie et la boulangère accepte de suivre le berger, qui suit le parfumeur, qui suit la bijoutière, qui suit le marchand d’oiseaux, qui suit le père…
Ils arrivent au magasin de vêtements où le vendeur accepte de les suivre jusqu’au magasin de jouets, et la marchande de jouets suit le marchand de vêtements, qui suit la boulangère, qui suit le berger, qui suit le parfumeur, qui suit la bijoutière, qui suit le marchand d’oiseaux, qui suit le père...
Vous suivez ?
En présence de sa femme et de tout son petit monde réuni, le père, enfin rassuré, va chercher son fils, son bébé, son premier-né.
Il le tient tendrement dans ses bras et, devant tous les témoins, il lui donne enfin le plus beau des cadeaux, ce qu’il y a de meilleur au monde, un baiser, le plus doux des baisers.
Muriel Bloch
Collectif
Les plus beaux contes de conteurs
Paris, Syros, 1999