quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Diário de Mariana



Querido diário,
Depois que as aulas começaram, ainda não me tinha aproximado de ti, querido diário.
Tanta coisa aconteceu desde o ano passado. Ainda não sei bem a razão, mas estou numa turma diferente. Sofri imenso porque com a mudança perdi alguns dos meus amigos. Eu sei que estamos na mesma escola, que nos encontramos nos intervalos, que falamos muitas vezes, mas não me venham dizer que é a mesma coisa porque não é.
Continuo com a Bia, a minha melhor amiga, mas o Gi ficou na nossa antiga turma. Parece que foi de propósito. Depois da nossa zanga sobre a boca racista que ele mandou no comboio, quando íamos para a praia de Espinho, ainda não falámos com era costume. E para mais mudaram-nos de turma. Assim, temos menos hipótese de fazer as pazes! Às vez penso que é porque já tinha de ser, mas outras penso que ele me faz falta, porque eu podia contar sempre com ele para desabafar, embora às vezes parecesse que estava nas nuvens e pouco ouvia. Que raio! Serão todos os rapazes assim?
O pior agora seria vê-lo com outra. Acho que não aconteceu ainda, senão vinham-me logo dizer.
Hoje lembrei-me muito do Gi, porque fazíamos muitos trabalhos juntos. Ano passado, por exemplo, escrevemos “Um conto sobre a palavra Amor” que ficou muito fixe. A professora de português gostou muito. Disse foi que faltavam acentos e vírgulas. Sublinhou tudo direitinho e tivemos de escrever a história de novo. Depois ficámos muito felizes quando vimos o nosso conto no livro que a escola publicou.
Este ano, vai ser diferente. Como o Gi não está na minha turma, vou escrever o conto com a Bia ou até sozinha. Este ano, o tema do concurso é “Uma história com um livro dentro”. Eu já tenho uma ideia e vou tentar realizá-la. Vou mesmo. E vou ver se o Gi consegue chegar ao fim da história sem me ter, na sala de aula, ao lado dele. No fundo, no fundo, acho que não, mas não sei muito bem, porque o Gi é imprevisível. Será que é por isso que ainda gosto dele?
Um abracinho, querido diário.
Mariana

terça-feira, 22 de outubro de 2013

I love(d) London in Autumn



sexta-feira, 18 de outubro de 2013

No Entardecer da Terra

Van Gogh

No entardecer da terra
O sopro do longo Outono
Amareleceu o chão.
Um vago vento erra,
Como um sonho mau num sono,
Na lívida solidão.

Soergue as folhas, e pousa
As folhas, e volve, e revolve,
E esvai-se inda outra vez.
Mas a folha não repousa,
O vento lívido volve
E expira na lividez.

Eu já não sou quem era;
O que eu sonhei, morri-o;
E até do que hoje sou
Amanhã direi, quem dera
Volver a sê-lo!... Mais frio
O vento vago voltou.

Fernando Pessoa, in Cancioneiro

Nota:
Obrigada, IA, 
pelo teu postal de fim de semana, 
do qual retirei o poema e a pintura
que agora também partilho.

"Teatro Portátil"



Ontem, dia 17 de outubro, um pequeno grupo de jovens representou, na ESG, a peça "Não sei o que o amanhã trará", baseada na vida e obra de Fernando Pessoa.

A companhia pertence à ACE Formação e Produção, em coprodução BISTURI.

Os intérpretes, Tiago Araújo, Pedro Roquette e Rita Lagarto, representaram, com vivacidade, uma situação de estudantes que se preparam para um teste de Português sobre Fernando Pessoa. O final é inesperado, o que aumenta o interesse do público.

Julgo que os alunos, que assistiram à representação, ficaram motivados e aprenderam com a atividade.

Eu, pessoalmente, gostaria de ter ouvido mais (excertos de) poemas dos diferentes heterónimos pessoanos e também de F. P., ortónimo.

No entanto, foi um bom trabalho desenvolvido por e para jovens, o que é motivador, porque, tal como muitas pessoas, às vezes, não deixo de dizer: "Não sei o que amanhã trará".

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Uma rosa à chuva



domingo, 13 de outubro de 2013

Taleigo

Um taleigo (eu diria saca, mas é sempre bom aprender novas palavras).
Foi feito, este sábado, numa Retrosaria, na Rua das Flores, no Porto, num workshop de patchwork.

Enquanto o taleigo ia sendo feito, a tarde ia acendendo novas luzes.




sábado, 12 de outubro de 2013

"Até que a voz me doa"

Uma gripe trouxe-me uma terrível rouquidão. E como achamos sempre que somos indispensáveis, não faltei às aulas nem às outras atividades escolares.
E forcei e insisti e repeti e mais um rebuçado e mais uma resposta e mais uma pergunta e mais um pouco de água ...
Resultado, fiquei pior.

- Olha, 'tas sem pio! 
- Bebe muita água natural.
- Faz chá de limão e toma-o bem quente.
- Mel com limão faz muito bem.
- Filha, não andes descalça na cozinha.
-  Por que não tomas um antibiótico?
- Deve ter sido de uma corrente de ar.
- Chá de casca de cebola é remédio santo.
- É uma virose de certeza.
- Os rebuçados de mel que se vendem na farmácia arrumam-te já com isso.
- Isso é natural e passa em breve.
 - As melhoras, setora.
- Filha, e se fosses à farmácia comprar algodão iodado?


Pus duas alunas a "darem as aulas": leitura de um texto e resolução das questões preparadas em casa.

Sentei-me no lugar da aluna que estava a dirigir e achei divertido ver que, muitas vezes, vêm à baila os nossos tiques: Concordas? Queres ajudá-lo?  Achas que está completo? Tens de falar mais alto!...
No final da aula, oiço a "aluna-professora" dizer, com um sorriso aberto, que adorou a experiência. Sorrio também, porque a afonia, felizmente, não o impede.

Fui, ao fim da tarde, levar um casaco à lavandaria. Teria de falar pouco. A funcionária pergunta-me se queria um serviço extra para manter a cor do casaco. Respondo e logo a senhora começa a falar para mim  mais devagar como se eu fosse surda. Tive pena de não saber linguagem gestual. 

Neste momento, tenho ao lado do computador uma caneca com chá quente de limão, umas pastilhas que comprei na farmácia e já tomei um medicamento.

Espero ficar melhor para não ter de faltar 2ª f.

Não quero o mal de ninguém, mas se o que me aconteceu a mim se passasse com alguns políticos poderia trazer um pouco mais de sossego aos nossos ouvidos.
E poucos estariam preocupados com a falta. Nem a teriam sequer porque tal só interessa ao comum dos mortais. E a voz destes pouco importa.


PAPY DES LUCIOLES


 


Quand j’étais petit, il était chouette Papy. Mais depuis qu’il habitait aux Mimosas, il n’était plus le même ! Il ne disait presque rien et il avançait en traînant les pieds sur le gravier.
Souvent, Papa et Maman discutaient avec Mamie. Moi, je devais me promener avec Papy. Je ne me sentais pas à l’aise dans le parc. J’avais entendu deux infirmiers dire que Papy avait eu une attaque. Alors, je ne restais pas trop près de lui. Mais pas trop loin non plus. Au cas où on nous attaquerait...
Ce jour-là, Papy a dit :
“Le vent pique au nez. C’est un temps à lucioles... Tu veux en voir ? Je sais où il y en a.”
Je n’ai pas eu le temps de répondre que ça ne m’intéressait pas.
Papy m’a pris la main et il m’a entraîné à l’extérieur du parc ! Nous avons marché longtemps. Papy marchait vite et ça m’a étonné. Je comptais les chemins pour m’y retrouver : un sentier à gauche, deux à droite, un chemin à gauche, un autre à droite... Et puis on est entré dans un champ et, comme je ne m’y retrouvais plus, j’ai arrêté de compter.
Papy était tout guilleret. On aurait dit que désormais tout le faisait rire. Je ne le reconnaissais plus. Alors j’ai fait semblant de rien et j’ai ouvert le livre que j’avais en poche. Papy était à quatre pattes. Je me suis dit : ou il cherche ses lucioles, ou il est devenu vraiment gaga, mon papy...
Il m’a fait un clin d’oeil pour que je vienne près de lui. Dans les herbes, il y avait plein de bestioles. Papy les prenait sur son doigt et il me disait des noms bizarres en les montrant. Soudain, j’ai reconnu Tradar, le héros de mes mangas. Je croyais que c’était un animal imaginaire. Mon papy a dit que non, que c’était un scarabée Asemum atriatum.
Puis Papy a dit :
“Regarde. Là-bas, il y a un creux. C’est sûrement une vallée. Qu’est-ce qu’on trouve au fond des vallées ?”
J’ai réfléchi. Je ne savais pas trop quoi répondre. Papy m’a laissé un peu chercher. À tout hasard, j’ai répondu :
“Des autoroutes ?”
Papy a éclaté de rire.
“Tu es bien un gamin de la ville, toi !”
Puis il a ajouté en me pinçant gentiment la joue :
“Au fond des vallées, on trouve des rivières et des ruisseaux. Allons-y !”
Sur le chemin qui conduisait à la rivière, nous sommes passés devant une ferme. Papy m’a chuchoté à l’oreille :
“Reste près de moi, on va s’amuser.”
Derrière un petit talus, il y avait un troupeau d’oies. Discrètement, Papy a soufflé dans ses mains. Un drôle de bruit en est sorti et les oies, étonnées, se sont mises à cacarder. Hé oui ! les chiens aboient, les vaches meuglent et les oies cacardent. C’est mon papy qui me l’a dit.
Mon papy était métamorphosé. Finalement, je passais une chouette journée !
Après les oies, on a cherché des champignons. J’ai vu des chanterelles et des trompettes-de-la-mort. Papy m’a dit qu’on pouvait les manger ! On a aussi lancé des petites “ailes d’érable” qui s’en allaient très loin dans le vent et on a fait une partie de cache-cache dans les ruines d’une ferme abandonnée. Et d’autres trucs encore. On a même vu un “bousier” qui poussait sa boule de je-vous-dis-pas-quoi...
Il y avait bien une petite rivière en bas du chemin. Au bord de l’eau, Papy a sorti un canif de sa poche. Il a coupé des petites lianes et, moi, j’ai ramassé des morceaux de bois bien plats. Papy a
lié le tout ensemble. Ensuite, on a coincé notre construction entre des cailloux, au-dessus de l’eau. Le courant a entraîné les petites pales et ça a commencé à tourner à toute vitesse : mon premier moulin à eau !
Puis on a inventé un jeu terrible : le pomme-basket ! C’est pas facile ! Un joueur très agile et très sportif doit monter dans l’arbre tout seul, sans qu’on l’aide, et viser la casquette de son papy avec des pommes. On gagne quand la casquette est pleine de fruits.
“Tu trouves aussi que ce jeu est amusant, Papy ?”
“Oui, et en plus, c’est toi qui l’as inventé !”
“Il va peut-être falloir rentrer”, a soupiré Papy. 
 
Avec le canif, je sculptais un morceau de bois comme il me l’avait montré.
J’ai dit à Papy que je ne voulais pas rentrer parce que je ne voulais pas qu’on l’attaque à nouveau. Il a fait des grands yeux étonnés :
“Qu’on m’attaque ?”
Alors j’ai expliqué que je savais ce que les grands me cachaient et que j’avais entendu ce que les infirmiers avaient dit. J’avais une boule dans la gorge comme quand j’ai envie de pleurer.
Il a souri et puis il a posé sa main sur ma tête. Il m’a expliqué que j’avais mal compris. Une “attaque”, c’est un genre de maladie qu’il avait eue, mais, maintenant, il était guéri. Personne ne lui voulait du mal.
Il faisait déjà un peu noir, mais nous n’avions pas peur.
“Ça y est, c’est maintenant”, a murmuré Papy.
J’ai mis ma main dans ses longs doigts secs qui sentaient les champignons, les pommes et la mousse des arbres et on a pris le chemin du retour.
“Je suis fier de toi, tu es le meilleur des petits-fils”, a dit Papy.
Moi, j’ai pensé dans mon coeur :
“Le meilleur des papys, c’est toi mon papy chéri.”
Je l’ai juste pensé. Je ne l’ai pas dit. Mais j’aurais dû.
“Regarde Papy, au-dessus de ta tête, des petites soucoupes volantes !”
“Ce sont les dernières de l’été.”
Tanguy Pay
Papy des lucioles
Tournai, La Renaissance du livre, 2003