quinta-feira, 9 de novembro de 2017

quarta-feira, 8 de novembro de 2017

Peregrinação de cada um!


Há dias, fui ao cinema Trindade, no Porto, ver o filme Peregrinação, do realizador João Botelho.
Quando entrei, a sala estava quase vazia. Minutos depois, começaram a chegar muitos idosos, ocupando quase todos os lugares.
Ouvi depois que eram utentes de um lar e que estar ali resultava de uma "Caixinha dos desejos", que, desta vez, se traduziram numa ida ao cinema. Achei uma bonita  ideia.
Via-se que alguns daqueles idosos não estavam habituados a ir ao cinema.
Ora, o filme dura 110m, sem intervalo, e exibe muitas das dificuldades e relações violentas vividas pelos marinheiros portugueses, no séc. XVI, através dos olhares de Fernão Mendes Pinto, que os transpôs para o seu livro Peregrinação.
Atrás de mim, ouvia-se uma voz que repetia: "Nunca mais acaba", outra: "Preciso de ir à casa de banho".
Talvez, quando regressassem ao Lar, dissessem que não tinham gostado muito do filme.
Talvez os cuidadores presentes, numa atitude muito louvável, ficassem satisfeitos com a oportunidade de proporcionar aos velhos um cinema sem barreiras arquitetónicas, ver um filme português, aprender um pouco mais da nossa História, conviver, conversar depois sobre diferentes assuntos, conhecer uma boa obra de arte, etc.
Talvez os dinamizadores do cinema Trindade ficassem felizes  ao verem que o grupo estava feliz por vir ao cinema.
E talvez  alguns idosos retivessem somente cenas bonitas, paisagens bonitas, músicas bonitas, jovens bonitas, para atenuar as cenas mais violentas ou aflitivas de confronto humano ou com forças da natureza.
Porque às vezes já basta a longa e pesada peregrinação de cada um!

terça-feira, 7 de novembro de 2017

domingo, 5 de novembro de 2017

Árvores da quinta da CCDRN - ao Campo Alegre

Tronco da canforeira
Canforeira



Feto arbóreo
Arália
Araucária

Bananeira
Feto arbóreo negro

A "Rota das árvores" é uma iniciativa da CCDRN, muito louvável e gratuita.
Algumas das fotos não têm legenda, porque tive dúvidas sobre os nomes das árvores, mas acho que a sua beleza é sempre boa para os olhos. E não só, é claro.

Olhando árvores e paisagens do Porto

Dentro da Quinta do Gólgota:

Eucalipto azul da Tasmânia
Faia - de mais longe e de mais perto
Azevinho (o que tem bolinhas vermelhas é fêmea)
Murta
Plátano
Espero não me ter enganado nos nomes! Se o fiz, peço desculpa e será uma maneira de rever árvores do Porto, seja no outono ou noutra estação.

Olhando árvores do Porto (e não só)


Fora da Quinta do Gólgota (junto à Faculdade de Arquitetura):

Canforeira e o seu tronco
Liquidâmbar (a folha de ácer estava na minha mão)
Hera japonesa - tricuspidata
Peço desculpa a uma pessoa que ficou na fotografia, o que sempre evito, mas vale a pena olhar para uma árvore liquidâmbar e passar junto à casa de Agustina Bessa Luís (olhando o cor-de-rosa da casa, a verdura do jardim, apetece fazer silêncio para não perturbar a escritora).
Também vale a pena prosseguir pelo caminho da Pena e ver as quintas que lá existem, algumas delas, infelizmente, parecem ao abandono. Numa delas, e no cimo de uma árvore, havia uma enorme bola de vespas que uma moradora disse ter medo que saíssem do seu ninho.
São talvez medos da aldeia que também existem no meio (ainda) tranquilo de cidades, como o Porto.

sábado, 4 de novembro de 2017

quinta-feira, 2 de novembro de 2017

quarta-feira, 1 de novembro de 2017

As avencas das minhas tias

 Quando eu era pequena, gostava de ir para a "sala de cima", de uma velha casa de lavoura onde a família da minha mãe sempre tinha vivido.
Ora, para se chegar à tal sala, tinha de se passar por uma varanda cheia de luz e de vasos de avenca em cima de colunas de madeira.
As avencas eram tratadas com delicadeza e com frequência para que não passassem fome nem sede. Às vezes, eram mudadas de sítio para serem poupadas aos excessos do sol ou do calor.
Eu vira as minhas tias a cuidarem das avencas desde sempre. As avencas eram verdíssimas e viçosíssimas e as minhas tias pareciam-me velhas, mas só agora vejo que eram novas e que, se todas vivessem, só agora seriam velhas.
Hoje, pela manhã, apanhei um raminho de avencas, juntei-lhes uma orquídea, atei-as com um fio claro e fui depô-las onde algumas já moram há algum tempo.
Não sei se viram, mas a intenção também não era essa.

terça-feira, 31 de outubro de 2017

Uma pequena história Sem Sombra de dúvida!






O céu estava coalhado de nuvens pardacentas. O ar gelava. A noite aproximava-se e não se via ninguém na rua ladeada de árvores despidas e negras. No silêncio parado, irrompeu o ruído de um carro, parando junto da porta do casarão, quase sempre fechado. O silvado cobrira os muros altos, isolando a casa. Todos diziam que lá não morava ninguém e contavam-se histórias sobre os habitantes que há muito tinham morrido, mas que, por muito amarem aquela casa e por muitas paixões guardarem, não tinham desaparecido. Porém, o único indício de vida, percebido do exterior, era o carro que, de repente, entrava e saía pelo portão que batia de forma assustadora.
Engolido o carro, tudo voltava ao silêncio.
Numa noite, houve um outro sinal: saía fumo de uma chaminé.
Aproveitando a minha invisibilidade de autora da história, entrei porque o frio era muito e também  não gosto de ficar a espreitar aquém dos muros.
As sebes do enorme jardim estavam desgrenhadas e ressequidas; as árvores erguiam-se nos seus troncos retorcidos, sustentados por raízes irregulares e salientes; algumas rosas vermelhas haviam murchado em botão, as heras trepavam, cobrindo  grossas paredes em ruínas.
Porém, no centro do jardim, erguia-se uma pequeníssima estufa envidraçada. As suas paredes de vidro deixavam ver aveludadas e viçosas rosas amarelas. Era o único sinal de cuidado naquele espaço sem mimo de mão humana. Ao cimo das escadas de pedra, ouviam-se vozes quase murmuradas. De repente, uma porta rangeu, saindo uma bela mulher de rosto palidamente entristecido. Desceu as escadas e dirigiu-se à estufa. Colheu um ramo de rosas e voltou a entrar em casa. O murmúrio estalou de novo.
De repente, as nuvens ganharam movimento e houve um pouco de luar. Sem se ouvir qualquer ruído, a mulher desceu as escadas de granito, trazendo um ramo de rosas secas na mão. A noite foi devolvida às trevas. Sem estrondo da pesada porta exterior, a mulher saiu num ápice, tal como tinha entrado. Nenhuma luz se via. Apenas o fumo da chaminé continuava voando.
De madrugada, a luz da lua iluminou as flores murchas. Ao seu lado, podiam ver-se, jazendo no chão, umas pesadas correntes.